O que a sociedade espera de um empresário?
Numa economia de mercado é indiscutível o papel do empresário no fornecimento de bens e serviços essenciais à vida humana, isto é, os que atendem às necessidades de vestuário, alimentação, saúde, educação, lazer etc.
Para o efeito, o mesmo deve decidir o produto/serviço a oferecer ao mercado, fixar as quantidades e qualidades a fabricar em razão de uma procura prevista, devendo para tal promover a articulação dos factores de produção; capital financeiro, capital humano, matérias-primas e tecnologia.
Em palavras simples, podemos afirmar que o empresário é alguém que ganha dinheiro solucionando problemas alheios. Se o problema a ser solucionado é grande, a empresa que o empresário administra é grande; se o problema for pequeno, a empresa é pequena. A empresa americana Google tem um grande problema: disponibilizar informação ao mundo inteiro. A loja de conveniência do nosso bairro tem um problema de menor dimensão: disponibilizar produtos à região onde está instalada.
Existem muitos aspectos que devem nortear a actividade de um empresário, para que este possa exercer a sua função de agente de desenvolvimento e crescimento da economia de um país. Gostaria de destacar três aspectos que, em minha opinião, devem fazer parte da reflexão de todo o prospectivo empresário, antes de iniciar-se na vida empresarial:
. Assumir como propósito principal da sua actividade a criação de valor para a sociedade, isto é, as empresas existem para servir, por uma causa nobre, para beneficiarem todas as pessoas que interagem com elas de maneira equilibrada. Para muitos empresários, esta afirmação é discutível, pois eles defendem que o principal propósito de uma empresa deve ser o alcance do objectivo financeiro de seus donos (ou maximizar retorno para o accionista). Compartilho também deste segundo ponto de vista, contando que o resultado financeiro seja consequência do valor gerado pela empresa, isto é, um aplauso da sociedade pela prestação de um serviço de excelência.
2. Sozinho, o empresário vai mais rápido, mas com o apoio de uma equipa ele vai mais longe. Esta expressão significa que níveis de rentabilidade e eficiência que geram resultados sólidos e duradouros só são alcançados quando investimos e apostamos nas pessoas, de modo a promover a criação de equipas profissionais fortes e com elevado potencial. Mas não basta ter uma boa equipa se o empresário não tiver a capacidade de escutar os seus conselhos, para que deles saiam decisões de qualidade que sustentem a permanência da empresa no mercado. Outro aspecto a salientar é que apenas se consegue o verdadeiro comprometimento de uma equipa quando o empresário tem paixão em servir de exemplo, ou seja, ser a maior referência de doação à causa nobre da empresa.
3. Ser empresário requer elevados níveis de resiliência e tenacidade, pois as empresas muitas vezes encontram-se em ambientes empresariais pouco ou nada favoráveis. Para lidar com esta situação, é necessário que o empresário adopte uma postura flexível, de modo a adaptar-se às circunstâncias de mercado inesperadas que podem advir muitas vezes de mudanças no comportamento dos consumidores ou de adversidades provenientes da conjuntura económica de cada país. Embora o papel do empresário seja vital para a sociedade, ninguém é obrigado a sê-lo, sendo sempre uma decisão voluntária, tendo em conta o perfil de cada indivíduo. Portanto, quem elege esta ocupação como meio de vida deve estar preparado para fazer parte da classe de cidadãos responsáveis por gerar soluções para o desenvolvimento socioeconómico de um país. Isto significa que esta classe não deve deixar de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para cumprir o seu papel na sociedade, alegando como justificativo o fraco ambiente empresarial do país. Em termos percentuais, acredito que os empresários deveriam dedicar 80% do seu tempo e energia à geração de soluções criativas dentro do ambiente empresarial onde se encontrem inseridos, pois, mesmo em cenários de grande adversidade económica e social, a sociedade continua a contar com os seus préstimos no fornecimento de bens e serviços. Os restantes 20% deveriam ser dedicados a reivindicar ao Estado a remoção das barreiras existentes no ambiente empresarial, pois o facto de serem parte activa da operacionalização da política económica do país concede-lhes legitimidade para o efeito. Importa destacar que as reivindicações não devem ser apresentadas de forma isolada. É necessário que os empresários do mesmo sector se unam em associações, para que, deste modo, consigam demonstrar a relevância dos seus problemas. A apresentação dos problemas deve contar com um diagnóstico correcto, baseado na realidade vivenciada, bem como um quadro de possíveis soluções a serem implementadas.
No cenário actual da economia angolana, os empresários proactivos, que pautam a sua actuação baseada pelos aspectos acima mencionados, certamente serão aqueles a quem a sociedade continuará a oferecer uma palavra de apreço. Enquanto os empresários que não conseguiram interiorizar os fundamentos essenciais da actividade empresarial, caso queiram sobreviver, terão de se reinventar, alterando a sua atitude perante a sociedade. Por fim, é de extrema importância que o empresário compreenda que, se estiver disposto a gerar valor para o mercado, a investir nas pessoas, a servir de exemplo, e a ser flexível e adaptável (gerando soluções criativas aos diferentes cenários de mercado), poderá aumentar as suas chances de sucesso, independente do cenário económico.
Kiesse Canito, Licenciado em Gestão de Empresas