Os impactos das sanções à Rússia sobre a economia de Angola
Os impactos económicos directos são residuais, pois os canais de transmissão pelos quais as sanções da Rússia passam para a economia de Angola são muito ténues, e deveriam passar pelos investimentos e pelo comércio bilateral entre as duas economias.
O conflito militar que se regista desde 24 de Fevereiro de 2022, envolvendo a Rússia e Ucrânia, tem mobilizado os países ocidentais - Estados Unidos e a União Europeia à cabeça - na imposição de sanções económicas à Rússia. Os reais impactos das restrições impostas, sobre a evolução da economia mundial, ainda estão por aferir.
Mas, para uma economia mundial cada vez mais integrada e globalizada, é avisado pensar que os efeitos, directos e indirectos, poderão ser sentidos em toda a economia global. A decisão da imposição de sanções já começou a ser sentida na Rússia, com o Banco Central a ter de elevar a taxa de juro de referência de 9,5% para 20%, enquanto o rublo perdeu 86% e as negociações bolsistas tiveram de ser encerradas para conter perdas consideráveis. Contudo, os efeitos também foram sentidos em alguns mercados no geral, como é o cambial e das commodities:
¦ O Brent, que serve de referência às exportações de petróleo de Angola registou um aumento de 10,72% ao longo do mês de Fevereiro, tendo-se fixado nos 100,99 USD/barril. Este desempenho é positivo para as perspectivas de arrecadação de receitas para o Estado angolano. Com um preço médio fixado em 59 USD/barril, a manutenção de altos preços do petróleo poderá assegurar saldos fiscais e da Conta Corrente acima do previsto e permitir uma execução financeira do OGE e de um normal funcionamento do mercado cambial, ao longo de 2022.
¦ O USD índex registou uma valorização de 0,17%, ao longo do mês de Fevereiro, ao se situar em 96,707 pontos, sendo que o euro e a libra depreciaram face ao dólar norte-americano em 0,14% e 0,20%, ao se situar em 1,122 EUR/USD e 1,342 GBP/USD, respectivamente. Neste mesmo período, a taxa de câmbio do kwanza registou apreciação de 7,11% face ao dólar, ao situar-se em 495,358 USD/Kz, impulsionada pela evolução do preço do barril do petróleo.
No caso de Angola, os impactos económicos directos são residuais, pois os canais de transmissão pelos quais as sanções da Rússia passam para a economia de Angola são muito ténues, e deveriam passar pelos investimentos e pelo comércio bilateral entre as duas economias.
Para o primeiro caso, os níveis de investimento de Angola na Rússia são muito reduzidos. Paralelamente, o stock de investi[1]mento russo em Angola - que está concentrado, fundamentalmente, no sector dos Diamantes e da Banca, através do Banco BTV África - não é suficientemente robusto que possa pôr em perigo o normal funcionamento da economia, com as medidas restritivas impostas à mobilidade dos capitais russos no sistema financeiro internacional.
Para o segundo canal, o comércio bilateral entre Angola e a Rússia, de acordo com as estatísticas do Banco Nacional de Angola (BNA), a Rússia foi a origem de 164,1 milhões USD de importações de Angola no III Trimestre de 2021, posicionando-se na posição 19.º da origem das importações de Angola, com uma participação de 1,2% do total das importações de Angola no período em referência. Logo, por essas vias, uma potencial redução da capacidade da economia russa de realizar os seus pagamentos/recebimentos internacionais não poderá pressionar de forma significativa a capacidade de importação de Angola.
Contudo, Angola tem na União Europeia a principal origem das suas importações, que, segundo dados do BNA, se fixaram em 2 425 milhões USD, o que representa 28% do total importado no III trimestre de 2021. Portugal foi responsável por 43% do total das importações registadas. Ora, as sanções à Rússia têm-se traduzido no incremento do preço do gás e do petróleo, como anunciado acima, ao mesmo tempo que tem fragilizado o euro em relação ao dólar, facto que está a traduzir- -se numa apreciação robusta do kwanza face à moeda única europeia e reduzido os níveis de competitividade de Angola.
(Leia o artigo integral na edição 665 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)