Qual é o real risco dos investimentos em activos financeiros?
Grande parte dos investidores aceitam que quanto maior é o risco maior é o retorno. Se isto fosse verdade, direccionar o nosso portfolio a activos mais arriscados seria uma garantia de enriquecimento.
Na secção Portfolio Risk and Return do CFA Institute: The expression on "risk-return trade-off " refers to the positive relationship between expected risk and return. In other words, a higher return is not possible do attain in efficient markets and over long periods of time without accepting higher risk.
O que significa que, em mercados eficientes, à medida que aumentamos a nossa expectativa de retorno, aumentamos na mesma proporção o risco do investimento. Todos os nossos esforços para alcançar altos retornos que não sejam acompanhados por um alto risco serão um desperdício em mercados eficientes pois, por definição, todas as cotações estarão ajustadas correctamente de acordo com as informações disponíveis. Mas, em mercados onde existem ineficiências nas cotações dos activos é possível fazer investimentos em que os retornos são substancialmente superiores ao risco assumido e, aí, a relação entre risco expectável e retorno não é necessariamente positiva, como na teoria risk-return tradeoff.
O retorno do investimento em obrigações, se for mantido até à maturidade, é fixo, assumindo que não há incumprimento. Mas, ainda que na nossa conjuntura este investimento pareça livre de risco dada a inexistência de incumprimento na dívida soberana ou mesmo corporativa, a capacidade da entidade emitente de cumprir a promessa de dívida deve ser incorporada no risco do investimento, ou seja, devemos pagar um preço por obrigações em que o rácio entre o risco de perda de capital e o retorno em caso de sucesso seja favorável.
Um exemplo prático: ocasionalmente é possível constatarmos na bolsa de valores bilhetes do tesouro de diferentes maturidades a serem transaccionados pelo mesmo preço. O investidor perspicaz pode imediatamente concluir que o bilhete com menor maturidade residual tem a melhor yield e apresenta o mesmo ou inferior nível de risco (é o mesmo emitente; é menos sensí vel às oscilações de taxas de juro; entre outros). A consequência de não conseguirmos obter os activos com a melhor preposição de risco/retorno poderá ser atingir retornos inferiores do que a nossa concorrência, ou estar abaixo de um índice de referência.
O investimento em acções, que é a compra de uma parcela de uma empresa, depende dos futuros resultados financeiros da empresa. E aqui, diferente das obr gações, cabe aos investidores estimarem os ganhos futuros que obterão deste investimento. Para um investidor afirmar se as acções de uma determinada empresa estão subvalorizadas ou sobrevalorizadas, este deve necessariamente ter uma opinião sobre os futuros retornos que o negócio gerará para o accionista. O preço unitário por si só não nos pode levar a nenhuma conclusão.
Então, em ambos os tipos de investimento o investidor precisa de ser capaz de projectar o futuro da entidade. Num dos casos o investidor precisa de avaliar se a entidade terá condições para cumprir com o pagamento da dívida e no outro precisa de avaliar se esta empresa no futuro conseguirá entregar valor aos accionistas.
Para que o investimento em obrigações e acções tenha sucesso é necessário que esta projecção feita pelo investidor esteja próxima da realidade e é daqui de onde advém o risco dos investimentos. Esta projecção, por depender de condições macro e microeconómicas futuras, constitui o risco de vir a provar-se incorrecta, que poderá levar a perdas de capital. Muitos investidores associam o risco dos investimentos à volatilidade do mercado. Isto porque no curto prazo o mercado precifica os activos de acordo ao que é mais popular, mas no longo prazo o preço do activo deverá ajustar-se de acordo ao verdadeiro peso e fundamentos da entidade subjacente.
A volatilidade pode constituir um risco se estivermos a operar com alavancagem, mas não é o significado absoluto de risco. Se olharmos para o risco como a probabilidade de perda de capital, veremos que é um conceito abrangente por depender de vários factores: risco de crédito, risco de liquidez, risco de volatilidade, risco de má avaliação dos fundamentos, entre outros. O conjunto destes riscos constituirá a probabilidade de perda e deve ser compensatório face ao retorno esperado.