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Opinião

Quando um fundo de capital de risco impulsiona o capital de risco às empresas

Análise

Angola está a trilhar um momento ímpar da sua economia, marcado pela estabilidade política e macroeconómica. O País regista melhoria acentuada do ambiente empresarial, com o crescimento do número de consumidores e da classe média (Estudo sobre a pobreza em África 2014: Standard Bank), a prospecção e exploração do seu potencial natural, bem como o desenvolvimento das infra-estruturas.

 

Além disso, o Executivo está a desenvolver iniciativas para a redução da dependência excessiva das receitas provenientes do sector petrolífero, que, executadas com sucesso e participação activa do empresariado, poderão garantir a diversificação e a robustez económica desejada. Importa mencionar, neste combinado de iniciativas, duas instituições criadas para reforçar o alavancamento da economia, nomeadamente o Fundo Soberano de Angola com uma dotação de 5 mil milhões USD para impulsionar investimentos no sector da hotelaria, indústria, agricultura e manufactura; e o FACRA-Fundo Activo de Capital de Risco, lançado no quadro do Programa de Desenvolvimento das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) que define como principal linha de acção investir em MPME que dão mostras de um forte potencial de crescimento e expansão.

As estatísticas económicas e as iniciativas desenvolvidas traduzem a esperança de um País que procura reerguer-se da guerra e se posicionar de forma estável no contexto das nações, como o mercado mais atractivo de África. O estudo sobre Atractividade de África de 2014, da EY, mostra que a África subsariana foi a segunda região cuja atracção de investimentos mais cresceu, sendo Angola o quarto maior receptor destes investimentos na região.

Estes dados revelam o bom momento e sanidade económica, e constituem um convite para o empresariado nacional, em particular aos jovens a desenvolverem as suas aspirações de negócio. Neste contexto, o capital de risco, representado pelo FACRA, afigura-se como solução para a dinamização e crescimento do empresariado jovem e não só, apoiando-os de forma a permitir que desenvolvam novos mercados, produtos, tecnologia, conhecimento e capacidade para o crescimento.

O capital de risco é uma modalidade económica usada para o desenvolvimento do mercado de economias emergentes, aplicada com sucesso em países como os Estados Unidos, Brasil e Israel. Estudos mostram que a sua aplicabilidade com sucesso constitui um motor para o progresso económico, o aumento da competitividade e suporte à inovação e empreendedorismo.

Em certa ocasião dedicada ao empresariado, em Luanda, o ministro da Economia de Angola, Abrahão Gourgel, enfatizara que o capital de risco é fundamental para a criação de empregos e aumento do grau de inclusão tecnológica, uma vez que as empresas apoiadas no quadro deste fundo têm sete vezes mais capacidade de gerar empregos.

Há um aspecto que não pode ser excluído nessa analogia: é que, ainda no quadro do capital de risco, observando o cenário pelo lado da procura, a empresa que possui um bom projecto, mas tem dificuldades de angariação de capital e, ainda assim, se pretende continuar a comandar os destinos da própria empresa, ou de seus projectos, procura-se investidores, neste âmbito, deixando estes trabalhar, mas obtém-se a garantia de que a qualquer altura será possível recomprar as participações sociais na posse desses investidores.

De modo geral, o capital de risco processa-se como sendo um tipo de investimento que envolve a participação em empresas com alto potencial de crescimento e expansão, através da participação minoritária no capital social da empresa, com o objectivo de rentabilizar o capital a médio e longo prazo.

Com a criação do FACRA, o empresariado nacional e estrangeiro com pretensões de crescer têm a oportunidade para financiar o seu crescimento através da criação de estruturas adequadas de gestão, crescimento, lucros e sustentabilidade dos seus negócios. Uma boa nova é o facto de o ministro da Economia ter assegurado, no acto da formalização do arranque do FACRA, que este Fundo é um instrumento poderoso para a diversificação da economia, que vai proporcionar maturidade aos investimentos para maior internacionalização das empresas nacionais, e conceder fundos estáveis de financiamento de longo prazo para as MPMEs, desde a sua fase inicial.

Com a criação do FACRA, o empresariado nacional poderá ver respondido os desafios de acesso ao capital ou créditos bancários, agravada pelo endividamento prevalecente em muitas empresas, que têm exposto os bancos a níveis elevados de risco no acto de concessão de créditos, tornando o custo do empréstimo mais elevado.

O capital de risco representa, deste modo, uma alternativa promissora para o empresariado entre as dificuldades e barreiras impostas na concessão de créditos. As condições actuais do mercado, em particular a estabilização da taxa de inflação, estimada em 7,4%, fazem de Angola uma opção atractiva para o capital de risco e uma oportunidade-chave para o empresariado desenvolver os seus negócios, contribuir para criação de empregos e o desenvolvimento económico e social do País.

Apesar de existirem enormes desafios para tornar o mercado angolano mais atractivo, devido a factores como a burocracia alfandegária, restrições ao investimento estrangeiro e reduzida taxa de bancarização (Ranking da Liberdade Económica, 2014: Fundação Heritage), o FACRA constituiu por si só uma grande oportunidade para o empresariado se desenvolver, tendo em conta que, para além de disponibilizar o capital como investidor, vai acompanhar o promotor nos desafios que se colocam na concretização do seu projecto.

Esta noção de acompanhamento de investimento ao longo do ciclo de vida é fundamental para o sucesso das novas empresas e é parte integrante da filosofia de investimento do FACRA. Tal como mencionou Manuel Nunes Júnior, da Universidade Agostinho Neto, ao Jornal de Angola, "nesta fase em que estamos a edificar a economia social de mercado e de modo a minimizar as desigualdades, precisamos de ter instituições económicas e sociais cada vez mais inclusivas".

Por isso, o capital de risco é uma enorme oportunidade para minimizar as desigualdades e para fazer crescer e prosperar as MPME, e gerar riquezas para o País. O primeiro passo está dado. Cabe aos empreendedores, de forma organizada, aproveitarem da melhor maneira este estímulo do Executivo para, juntos, criarmos uma economia mais bem sustentada para os desafios actuais.

Teodoro de Jesus Xavier Poulson, Vogal da Comissão de Investimento do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano FACRA

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