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Opinião

Tempo perdido

Editorial

O desenvolvimento económico depois da Paz foi feito para uma meia-dúzia, gerou dezenas de multimilionários com a quantidade de dinheiro que deixou de ser gasto na guerra, a que se juntaram os biliões da Reconstrução Nacional, o preço do barril de petróleo acima dos 100 USD em alguns momentos, tudo isto impulsionado pela tese da "acumulação primitiva de capital".

Chegados a este ponto, em que o País passa por momentos complicados e demora a disparar o crescimento económico, existe a tendência para dizer que hoje está tudo mal e que ontem é que era bom. E isso é repetido tantas vezes, impulsionado pela força das redes sociais, leva a que muitos acreditem mesmo nisso. Obviamente que a distribuição de riqueza no País é extremamente injusta, mas já é assim há pelo menos 30 anos, que não temos um sistema de educação e saúde que garantam serviços mínimos à população, mas também é assim há pelo 20 anos.

Grande parte desta geração que comanda o País e as instituições estudou fora e trata da saúde no estrangeiro e talvez não tenha a sensibilidade necessária para perceber o quanto é importante melhorar estes sectores. Até porque já tem os filhos, os sobrinhos e os netos a estudar e a viver fora das nossas fronteiras e não sentem essa pressão por perto. E muitos deles só agora, quando estes lhes dizem que não querem voltar, percebem a sucessão de erros e as oportunidades perdidas ao longo de todos estes anos para cumprir esse enorme desígnio, que é ser capaz de educar e tratar dos nossos no nosso território, e que, verdadeiramente, todas as nossas crianças tenham as mesmas oportunidades, independentemente do seu estrato social, género ou poder económico da família. Mas também já era assim há pelo menos 20 anos.

Objectivamente, o desenvolvimento económico depois da Paz foi feito para uma meia-dúzia, gerou dezenas de multimilionários com a quantidade de dinheiro que deixou de ser gasto na guerra, a que se juntaram os biliões da Reconstrução Nacional, o preço do barril de petróleo acima dos 100 USD em alguns momentos, tudo isto impulsionado pela tese da "acumulação primitiva de capital". Tudo era justificado desde que fosse para enriquecer, o dinheiro passou a ser o livre-trânsito para todas as atitudes mais deploráveis, com mensagens de incentivo de quem devia controlar este fenómeno e que não nos esquecemos, "nenhum angolano vive só do seu salário".

E foi assim que construímos uma estrutura social assente na gasosa, na fezada, na venda da responsabilidade assumida, em que se passou a premiar o esquema em vez dos valores. Em que as aparências ultrapassaram os comportamentos, em que os menos capazes passaram à frente dos bons profissionais, apenas porque davam jeito aos negócios do chefe. E veio de cima para baixo, tal como acontece em todas as doenças, e depois do corpo infectado as maleitas foram muito para além do local de origem, impedindo que maioria perceba onde tudo começou. Mas já era assim há 20 anos.

Chegados aqui, com as consequências da postura de décadas, a tendência é apontar o dedo aos que estão agora na primeira fila. E se estes não andarem depressa na cura, vão mesmo ficar com as culpas todas. Até porque se tentou fazer ventos novos com ventoinhas antigas, o que, sabia-se, seria muito difícil de resultar dentro dos prazos que a maioria considerava razoável. Também a paciência já não era muita...