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"Infelizmente, a música folclórica tem ouvintes mas não tem palco"

Edna Mateia - cantora

A ministra da Cultura do Reino do Bailundo, que actua no resgate e divulgação dos hábitos e costumes daquela região, conta que apesar de existirem pessoas interessadas em trabalhar na preservação da identidade cultural por via da música, ainda há obstáculos por ultrapassar.

Como e quando surgiu o seu gosto e interesse pela música?

A música entrou na minha vida desde muito cedo. Foi no coral infantil da IECA (Igreja Evangélica Congregacional em Angola) onde comecei a dar os primeiros passos. Entretanto, fui passando por vários grupos na igreja, mas foi em 2006 que tudo começou de facto, quando participei num concurso denominado "Vozes Femininas", no Huambo, e sagrei-me vencedora. De lá para cá, foi só somar e seguir.

Como descreve o seu percurso?

Até ao momento, está a ser um trajecto repleto de aprendizagens importantes.

O que mudou na sua música e na sua trajectória enquanto artista desde 2006?

Tanto na música, como na minha trajectória pessoal, até porque as duas estão interligadas, vou-me moldando em função da dinâmica do mercado e da minha evolução enquanto artista e pessoa. Hoje, tanto a forma como canto, o que canto, o meu posicionamento enquanto mulher artista, mãe e esposa, e o interesse pelo resgate das nossas músicas, é um claro indicador de evolução.

O seu primeiro contacto com um estúdio foi em Luanda. A ascensão dos artistas passa necessariamente pela capital do País?

No início da minha carreira também já pensei desta forma. Porém, hoje tenho uma visão completamente diferente. Apesar de ainda fazer muita diferença vir para Luanda, uma vez que os órgãos de divulgação tradicionais, as produtoras e os principais eventos ainda são realizados em Luanda, é possível fazer acontecer a partir do local onde estamos, desde que seja bem-feito.

Estamos a comemorar a cultura nacional. Qual tem sido o contributo da música nesta vertente?

Neste capítulo há muito por dizer... Nos dias que correm, é importante reflectirmos no que realmente estamos a chamar de cultura. Há uma lacuna muito grande para preencher. Existe um grupo de pessoas interessadas em trabalhar na preservação da nossa identidade cultural por via da música, como é o meu caso, porém não é um processo fácil.

No seu caso em concreto, que elementos culturais carrega nas suas músicas?

A maior parte das minhas músicas transpiram cultura. Desde a língua, os ritmos, o traje que uso nas apresentações, etc. E será assim, cada vez mais. Estou a trabalhar num projecto de recolha de canções comemorativas dos povos Ovimbundu, com objectivo de resgatar, valorizar, preservar e divulgar cada vez mais os nossos hábitos e costumes por intermédio da música, em parceria com o meu reino, Mbalundu.

O tradicional é muito consumido? Ou a tendência dos ouvintes é seguir os produtos mais comerciais?

Infelizmente, a música folclórica tem ouvintes, mas não tem palco. Quase que não se realizam eventos com artistas que fazem música de raiz.... Há público, mas não há palco, o que, de certa forma, chega a desencorajar os mais jovens a aprenderem e produzirem conteúdos do género. Para tal, é importante que aqueles que se levantaram continuem a persistir e insistir para mudar o quadro.

Com os anos de carreira que tem, que análise faz do mercado nacional?

O nosso mercado está em constante evolução. Há muito talento, muita diversidade, mas é importante lembrar aos artistas sobre a necessidade de termos sempre atenção aos conteúdos que lançamos para o mercado e sobre a responsabilidade social.

Leia o artigo integral na edição 810 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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