"Que se crie uma linha de crédito para que os fazedores de arte consigam realizar os seus projectos"
Das passarelas às telas, o actor da novela "O Rio" defende uma maior aposta no teatro nacional, assim como no cinema para que estas artes possam contribuir para a diversificação da economia. Só o talento não basta, admite, considerando que há necessidade de o produto ser lapidado, formado e encorajado.
Muitos anos nas passarelas e agora nas telas. Como e quando surge essa mudança?
Eu não considero tanta mudança, porque as duas profissões, os dois ofícios, sempre andaram de forma paralela. Comecei a fazer teatro ainda criança, no ano 2.000, na igreja Católica e quando ingresso no ensino médio surgiu a oportunidade de fazer moda, isso no ano 2002 a 2005, mas tudo de forma muito amadora. Foi no final de 2009 que comecei a profissionalizar-me mais no ramo da moda, com a participação em concursos de beleza, o Mister Angola e outros projectos que foram surgindo a nível nacional e internacional.
Foi daí que surgiu a oportunidade para fazer novelas?
Quando volto para Angola fui convidado para gravar uma novela, já a nível profissional, como actor. Que foi a antiga novela "Windeck" e depois tive a oportunidade de gravar o "Jikulumessu". A seguir tive outra experiência, que é uma novela Angola-Portugal, que é "A Única Mulher", que tem o título de uma música de Anselmo Ralph. E, sequencialmente, tive outras participações não muito relevantes. E, nos últimos 3, 4 anos, voltei ao activo, já com a Diamond Produções, que é a Diamond Films, onde tive a oportunidade de gravar em 5 projectos, que é a novela "O Rio", onde estive nas 3 temporadas, não com uma personagem de grande relevância, mas era sequencial a minha aparição. Tive também a oportunidade de gravar, ainda assim, a outra novela, que é Mahinga. Tive ainda a oportunidade também de gravar 2 filmes, o "Plano B", que estreou recentemente e outro filme que ainda não posso dizer, que está em fase de gravações. Ainda assim, a Diamond Films convidou-me depois para gravar uma outra novela, que é a nova roupagem do Windeck.
Como avalia esse percurso?
É um percurso que permite acumular uma vasta experiência, com alguns vacilos, mas não por conta da falta de profissionalismo ou falta de crer, é muito por conta do mercado, que é um bocadinho apertado, e as oportunidades aparecem assim de forma vagarosa.
Quando fala que o mercado é apertado, refere-se a quê concretamente?
É apertado por falta de muitas oportunidades, tanto na produção como para os actores. Se virmos nesta altura, temos uma ou outra novela a decorrer, mas em termos de produção, aquilo que é o processo de gravação, está em stand-by.
Falta de apoios?
Não sou a pessoa indicada para dizer se há apoios ou não, porque eu sou actor, eu só sou contratado para gravar. Acredito que a falta de recursos está muito na base para que essas situações aconteçam, porque acredito que se houver dinheiro os projectos avançam. Quando não há, é bem provável que as coisas não aconteçam por conta dessa situação, mas vamos lá ver o que o futuro nos reserva.
Como actor, como olha para o mercado nacional?
O nosso mercado é muito específico, onde há muitas paragens, e quando há projectos, são pequenos, mas para muita gente há poucas oportunidades, porque acredito que há muitos bons actores. Mas por falta de oportunidades, muitos deles não conseguem mostrar os seus trabalhos. Acredito que se tivéssemos mais apostas, a nível de produções, não só as que já existem, e se se fizer em maior escala, acredito que teremos um maior número de actores e teremos um mercado mais competitivo, porque é a competição que faz o mercado.
Podemos considerar que são profissionais intermitentes?
Sim, na área do cinema e da televisão, nesse caso, acredito que sim. No teatro é diferente. No teatro há um público muito específico, nem sempre se sabe onde e quando está a ser exibida uma peça teatral. Agora, quanto à televisão e ao cinema têm outra exigência, a nível de aparatos, a nível de pré-produção e isso acarreta mais recursos, o que exige mais finanças.
Como surgem as oportunidades para participar nestes projectos?
Têm sido feitos castings para que se aprove os melhores, ou aqueles que estão adequados aos personagens, e esses, assim, merecem o direito de fazerem o trabalho. Não posso dizer que assim funciona com todos, porque nos castings em que já participei, há uns que vejo, há outros que não vejo, mas na hora da gravação lá estão. Não sei quais são os critérios nos quais têm sido avaliados, sendo que eu também já fui convidado a participar em projectos, não tive que fazer necessariamente um casting. Por inerência das competências, ou do currículo que eu já trago, sou apenas submetido a um pre-casting básico, para ver em que estado me encontro. Mas acredito que o processo de convites e de castings acontece em toda a parte do mundo, mas em Angola, por não termos produções constantes, o processo tem sido feito de forma lenta. Em suma, o talento tem de falar mais alto, e estamos aqui sempre a dar o melhor.
Com essa pouca produção nacional, acha que vale a pena sonhar em ser actor ou actriz em Angola?
Acredito que todo o princípio tem os pioneiros, e ao começarmos nada cai de forma abonatória, temos que ir no galgando para conseguirmos lá chegar, é importante que permaneçamos nesse fio, para que consigamos também dar esperança para quem sonha. Dizer se vale a pena sonhar ou não, diria que sim, vale a pena sonhar, nós temos referências do cinema, da televisão e de actores de teatro. Então, acredito que é importante continuarmos a sonhar, e dou coragem àqueles que queiram realmente ser actores, que vão atrás, que é uma profissão muito difícil, não só nas oportunidades de conseguir trabalhos, mas é uma profissão que a pessoa tem que se despir da sua personalidade primária, para ir à busca de uma personalidade diferente. Carece de muito estudo, de muita pesquisa, de muita persistência, e é bonito, porque independentemente do ganho financeiro, a pessoa adquire também outras valências, a nível intelectual. Vai-se à procura de um outro perfil de vida, e consegue-se perceber outro horizonte, e abrem-se oportunidades, acredito que é algo muito bom, e quem quiser, tá à vontade e dou coragem.
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