As trocas comerciais angolanas com o continente africano atingiram no ano passado o valor mais alto dos últimos seis anos, depois de registarem um crescimento de 8% face a 2023, ao passar de 2.374 milhões USD para 2.562 milhões USD. Este crescimento resulta essencialmente da venda de petróleo à África do Sul, cujo valor quase que triplicou face a 2023. Ainda assim, o continente africano vale apenas 5% do total das trocas comerciais angolanas, cenário que dificilmente será contrariado pela Zona de Comércio Livre da SADC, pelo menos no curto prazo, admitem especialistas.

De acordo com cálculos do Expansão com base no Anuário de Estatísticas de Comércio Externo do Instituto Nacional de Estatística (INE), no ano passado, Angola exportou mercadorias no valor de 36.451 milhões USD, em que apenas 1.480 milhões tiveram como destino países do continente africano. Significa que apenas 4% das vendas angolanas foram para África. Por outro lado, importou o equivalente a 14.975 milhões USD, em que apenas 1.082 milhões foram fornecidos por países africanos, equivalente a 7% do total das compras angolanas ao estrangeiro.

Contas feitas, as trocas comerciais angolanas com o continente equivalem hoje a apenas cerca de 5% do total das trocas, o que contrasta com os 7% que valiam há dez anos, ou seja, em 2015.

Estes números, admite um consultor ao Expansão, reflectem principalmente a concentração do petróleo na cesta das exportações, commodity que vale 94% das vendas angolanas lá para fora, adiantando que se for excluído o petróleo esse percentual será eventualmente diferente. Dos 36.451 milhões USD de exportações, 34.358 milhões foram do sector petrolífero, 1.534 foram diamantes, o que significa que apenas 558 milhões USD foram de fora destes dois sectores, de acordo com cálculos do Expansão.

O relatório do INE não indica que produtos Angola comercializa com os países africanos, mas revela os valores quer da importação quer da exportação, bem como os países de origem e o destino das mercadorias. Assim, a África do Sul é de longe o maior parceiro comercial angolano no continente, já que dos 1.480 milhões USD de vendas angolanas para África, cerca de 823 milhões foram para o país de Nelson Mandela. Para perceber que tipo de mercadorias Angola vendeu à África do Sul no passado é necessário recorrer às Estatísticas Externas do Banco Nacional de Angola (BNA), que indicam que o País vendeu 803 milhões USD em petróleo àquele país (+156% do que em 2023). Isto significa que 98% das exportações para a África do Sul foram petróleo. Togo, com 246 milhões USD e RD Congo, com 173 milhões USD, completam o top 3 dos clientes africanos de Angola.

E se a África do Sul é o principal comprador de mercadorias angolanas no continente, também lidera a lista dos fornecedores africanos de Angola. Dos 1.082 milhões USD de compras ao continente, 529 milhões foram de produtos comprados no mercado sul-africano, equivalente a 49% das compras angolanas a África. Nigéria, com 246 milhões USD, e Togo, com 80 milhões USD, completam o top 3 dos fornecedores africanos do País.

Quer do lado dos fornecedores, quer do lado dos clientes, os países africanos estão muito longe do topo da lista das trocas comerciais angolanas. A China é o principal cliente angolano, país que no ano passado ficou com 45% das exportações de Angola, cerca de 16.259 milhões entre um total de 36.451 milhões USD. O gigante asiático, que é o principal credor do País, é o principal cliente do petróleo angolano, que também serve como colateral para o pagamento da dívida. Já a Índia é o segundo maior cliente de Angola, com 4.235 milhões USD e a Espanha fecha o pódio, com 2.127 milhões USD. Entre os 10 principais clientes de Angola, apenas se encontra um africano, a África do Sul, que ocupa a 9ª posição.

A China também lidera a lista dos mercados fornecedores de mercadorias a Angola. No ano passado forneceram 2.724 milhões USD em mercadorias, equivalente a 15% do total das compras angolanas. Portugal mantém-se no segundo lugar, com 1.425 milhões USD e o Reino Unido - onde hoje está parqueada a maior parte da dívida externa angolana, sobretudo Eurobonds - com 1.134 milhões USD fecha o top 3. A África do Sul ocupa a 10ª posição dos maiores mercados de origem de produtos importados por Angola.

Leia o artigo integral na edição 833 do Expansão, de Sexta-feira, dia 04 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)