Comércio e Agricultura não se entendem sobre importações de carne
Um documento de Fevereiro do Instituto de Serviços Veterinários (ISV) propõe a proibição de importacões de vários produtos de proteína animal já a partir de amanhã, 15 de Março, mas o clima continua a ser de indefinição. Importadores garantem que as restrições se verificam desde Janeiro.
A suposta proibição de importação de vários produtos de carne suína, bovina e de aves continua envolta em incerteza. Na terça-feira, 11, o Expansão contactou o Ministério da Agricultura e Florestas (MINAGRIF) para obter esclarecimentos, mas fonte oficial da instituição remeteu para as declarações públicas do titular do cargo, Isaac dos Anjos, que disse ainda não ter aceite a proposta do Instituto de Serviços Veterinários (ISV), mas que também não está a pensar lutar contra ela.
Várias fontes consultadas pelo Expansão admitem a indefinição mas garantem que a vontade do ministro é evidente: avançar com as proibições. Minutos antes do contacto efectuado com o MINAGRIF, o MINDCOM, também de forma oficiosa, defendeu que aquelas propostas não são para cumprir, o que reforça a sensação de descoordenação entre os vários departamentos do governo, ao mesmo tempo que algumas empresas importadoras de proteína animal garantem que as licenças não estão a ser emitidas desde Janeiro.
No dia 27 de Fevereiro, durante o lançamento da consulta pública para a elaboração da Estratégia Nacional de Reconversão dos Sistemas Agro-alimentares 2026-2035, em Luanda, Isaac dos Anjos disse que ainda não tinha despachado nada. "Foram os Serviços [de Veterinária] que me comunicaram. Eu é que tenho de decidir se concordo com a decisão ou não", disse Isaac dos Anjos na altura, citado pela revista Economia & Mercado.
Na mesma ocasião, o governante sublinhou também que, em princípio, não vai "lutar com os Serviços de Veterinária", já que o titular da pasta da Agricultura e Florestas entende que o País tem infra-estruturas e condições para produzir internamente os produtos em causa.
Isaac dos Anjos afirmou que, "volvidas quase cinco décadas desde a independência Nacional", Angola não deve aceitar que certos produtos "façam parte da dieta alimentar das populações".
"50 anos depois, somos um País independente, não podemos ficar felizes quando a única coisa que podemos dar à nossa gente são asas de galinha, pernas de galinha, e de preferência importadas, porque se calhar sabem melhor", gracejou, embora a proibição de importações não afecte apenas os referidos produtos e inclui fígado, coração, dobrada e outras referências com valor nutritivo e baixo preço.
Isaac dos Anjos ainda fez mais comentários sobre o tema e manifestou-se "perplexo e inconformado com o quadro": "O que é isso? E vêm em nome do povo, porque dizem que se fizermos essa declaração de proibição isso vai criar inflação".
No documento que sustenta a pretensão de proibição, o ISV informa que, a partir de 15 de Março (amanhã, sábado), não serão emitidas novas licenças para importação de partes de aves, de suínos e de bovinos, porque alegadamente "existem condições para a produção local dos referidos produtos".
Segundo a comunicação do ISV, a partir de 31 de Julho podem ser barradas ainda mais importações, agora de rabinho de bovino, cabeça de bovino, coxa, coxa de galinha rija, coxa de peru, coxinha e pescoço de porco, entre outros produtos de elevado consumo junto das camadas mais pobres da população.
Leia o artigo integral na edição 817 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)