Dívida externa angolana "parqueada" no Reino Unido já supera a China
É no Reino Unido que se encontram hoje os maiores credores de Angola, que são os investidores dos denominados Eurobonds. Números do BNA não "casam" com os do Ministério das Finanças em relação a quanto é que o País deve lá fora e há uma diferença de 736 milhões entre as duas instituições.
A dívida externa, incluindo atrasados, cresceu 4% em apenas três meses, ao passar de 46.764,1 milhões USD para 48.632,3 milhões, um aumento de 1.868,3 milhões USD, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA). A dívida externa angolana "parqueada" no Reino Unido ultrapassou, pela primeira vez, os kilapis angolanos à China.
Os dados do BNA relativos à divida externa não identificam os credores mas revelam em que países se encontram, pelo que apenas se sabe que a dívida contraída no Reino Unido até ao I trimestre deste ano já vale 15.085,9 milhões (+1.517 milhões do que no IV trimestre de 2024) e superou os 14.064,0 da dívida à China (-290 milhões USD face ao final de 2024), país que cronicamente tem sido o maior credor angolano. Assim, em Março deste ano um total de 31% da dívida externa era ao Reino Unido, sobretudo a instituições bancárias e a investidores dos Eurobonds (9.114,0 milhões USD), e 29% à China.
Para tentar perceber como tem sido a evolução da dívida externa angolana por instituição credora é necessário recorrer ao relatório de execução orçamental relativo ao I trimestre de 2025, publicado no site do Ministério das Finanças, ainda que a maior parte dos números do MinFin não "casem" com os agora publicados pelo BNA.
Só para se ter uma ideia, no relatório de execução consta que a dívida externa no final de Março era de "apenas" 47.896 milhões USD (-736,3 milhões do que os dados do BNA se forem contabilizados os atrasados, ou -412,9 milhões USD se não forem contabilizados os atrasados). Enquanto o MinFin refere que a dívida comercial (incluindo fornecedores) no final do I trimestre era de 23.900 milhões, o BNA avança que era de 35.376,2 milhões (+1.512,3 milhões do que no final de 2024, em que 98% desse valor foi contraído junto dos bancos).
Também no que toca à relação com a China os números diferem. Por exemplo, de acordo com os dados do BNA o stock da dívida angolana à China (bilateral e comercial) caiu 290 milhões USD, mas os dados do MinFin sugerem uma queda maior, de cerca de 1.200 milhões USD. Aliás, segundo o relatório de execução, a dívida ao maior credor individual angolano, o Banco de Desenvolvimento da China (BDC), caiu 925 milhões USD no I trimestre de 2025 face ao final de 2024, para 7.878 milhões USD. Em 2021, Angola devia a este banco 13.578 milhões USD, pelo que em apenas quatro anos encolheu 72%, ou seja, vale hoje menos 5.807 milhões USD. Em resposta a questões do Expansão, o MinFin reconhece que a dívida com este banco do gigante asiático continua a seguir uma trajectória descendente, tendo diminuído recentemente "pela utilização de recursos do Estado", sem que tenha sido "utilizado nenhum financiamento externo para promover esta redução".
Volta aos dados do BNA, só desde 2020 a dívida à China caiu 36% ao passar de 21.993,1 milhões USD para 14.064,0 milhões, equivalente a menos 7.929,1 milhões USD. E se a dívida ao gigante asiático baixou, também a dívida colaterizada por petróleo àquele que é o único país com quem Angola tem activos acordos com este tipo de garantia afundou neste período para 9.030,0 milhões USD: 7.880 milhões ao BDC e 1.160 milhões ao Eximbank. "O compromisso de Angola com redução da dívida colateralizada com o petróleo mantém-se. Se as condições de mercado permitirem, continuaremos a promover a redução deste tipo de dívida no nosso stock", refere o MinFin em resposta ao Expansão, acrescentando que "os financiamentos com a China poderão continuar a acontecer, porém a estratégia de endividamento orienta que novos financiamentos não sejam efectuados com garantia em commodities".
Leia o artigo integral na edição 830 do Expansão, de Sexta-feira, dia 13 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)