Russos da Alrosa recuam e já não saem da Sociedade Mineira de Catoca
A política externa de Donald Trump abre caminho à permanência da Alrosa em Catoca. Aliás, a saída apesar de ter sido oficializada acabou por nunca ser concretizada, já que os russos continuam em Catoca para a assistência técnica. Governo vê com bons olhos a permanência.
A multinacional russa Alrosa comunicou ao Governo angolano que afinal não vai largar a sua participação de 41% na Sociedade Mineira de Catoca (SMC), um volte face que surge na sequência do reatar de relações entre a Rússia e os EUA de Donald Trump, o que abre portas ao fim das sanções internacionais àquele país e às suas empresas e organizações que estavam a prejudicar a venda de diamantes angolanos nos mercados internacionais, apurou o Expansão.
Desde Janeiro do ano passado que Angola estava a pressionar a multinacional russa a sair das operações da principal empresa diamantífera do País, tendo a Alrosa aceitado a saída no final de 2024, tendo fechado um acordo com a Maaden-International Investment, de Omã, a venda da participação em Catoca e no Luele. Em Dezembro, João Lourenço deslocou-se a Omã para finalizar os acordos que visavam a entrada desta empresa do Fundo Soberano daquele País na diamantífera angolana.
Essa alteração à estrutura societária de Catoca e do Luele consta nos despachos presidenciais n.º 14/25 e o n.º17/25, ambos de 9 de Janeiro. Agora, segundo fonte do Governo, face a este volte face nas circunstâncias internacionais e face à demonstração de interesse da multinacional russa em manter-se em Angola, "está- -se a trabalhar para acertar a reentrada da Alrosa em Catoca".
Está assim a chegar ao fim este episódio que provou um "irritante" entre Angola e o seu parceiro estratégico mais antigo, a Rússia. Antes do fim do casamento anunciado entre os russos da Alrosa e a Endiama, os russos chegaram a transmitir às autoridades angolanas que a sua saída não seria a custo zero, já que queriam ser ressarcidos do investimento realizado nos últimos 29 anos em que estiveram ligados à exploração de diamantes na Sociedade Mineira de Catoca e mais recentemente no Luele. A parte angolana sempre discordou da posição russa, o que obrigou a Alrosa a encontrar um parceiro, como a Maaden-International Investment, para comprar a sua participação na Catoca. No seio do sector diamantífero, a Maaden sempre foi encarada como uma espécie de "testa de ferro" da Alrosa em Catoca que, mais tarde ou mais cedo, acabaria por devolver o negócio à empresa russa.
Ainda assim, do lado angolano sempre foi salvaguardado que a pressão para a saída da Alrosa só era feita pela necessidade de garantir a viabilidade de Catoca, já que as sanções internacionais impediram a comercialização de diamantes produzidos na maior mina angolana, mas também a contratação de alguns fornecedores internacionais de bens e serviços, que garantissem a manutenção das operações, como foi o caso da japonesa Komatsu.
Ao longo de mais de um ano, sempre foi assumido que a eventual saída da Alrosa estaria condicionada aos resultados das eleições presidenciais nos EUA, já que do lado russo sempre se assumiu que Donald Trump seria mais "simpático" do que Biden. Ainda assim, e após a vitória de Trump, só após a tomada de posse do "milionário" é que o contexto começou a alterar-se, levando, agora, a este fim, de que a Alrosa afinal já não sai de Angola.
Leia o artigo integral na edição 815 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)