Aviões degradados e abandonados à espera de sucateiros
São aviões avariados e acidentados, alguns intactos, que estão no Aeroporto 4 de Fevereiro, muitos deles há mais de 10 anos. Siderurgias queixam-se do excesso de burocracia no processo de compra, mas a SGA diz que a venda não é da sua responsabilidade.
O número de aeronaves degradadas no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro reduziu de 76 para 69, três anos após o Expansão noticiar o estado de abandono e degradação dos aparelhos, depois de os proprietários das 76 aeronaves perderem os aparelhos a favor do Estado. Hoje são menos sete as aeronaves à espera de clientes (sucateiros).
Todos os aparelhos foram, entretanto, removidos do Centro Regional de Controlo (CCR), zona do aeroporto onde estavam depositadas aeronaves degradadas, para um quintal ao lado, recentemente delimitado por muros de blocos. Apenas um aparelho, que era do Antigo Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, ficou no antigo recinto, mas já a ser desmanchado para ser "abatido", constatou o Expansão no local.
Das sete aeronaves avariadas que saíram do CCR, cinco são do tipo helicóptero, pertencentes à Sonair, e foram vendidas a uma empresa sul-africana, num processo de alienação que a empresa estatal leva a cabo desde 2021. As outras duas são da empresa Air Jet, que as recolheu para o seu estaleiro, conhecido por hangar.
Em relação às restantes 69 aeronaves, apesar de pertencerem à esfera estatal, ainda podem ser recuperadas pelos donos, caso estejam interessados, esclareceu uma fonte da Sociedade Gestora de Aeroportos (SGA). Para isso, basta que liquidem a dívida de estacionamento aeroportuário que acumularam, ao longo dos anos em que estiveram paradas no local. "Depois de pagarem a dívida à SGA, pelo tempo de estacionamento, podem reaver as suas aeronaves. E a própria empresa depois é que decide o que vai fazer com ela, se vende ou reabilita o meio", disse um funcionário na placa do aeroporto.
Confiscados por dívida
Estes meios passaram para a esfera pública há dois anos, depois de dois editais do Ministério dos Transportes - o primeiro em Dezembro de 2020 e o segundo em Julho de 2022 - que obrigava os proprietários dos meios aéreos fora de uso a removê-los do recinto aeroportuário, num período de seis meses. No fim do prazo, os proprietários que não cumpriram a ordem do edital viram os seus meios reverterem a favor do Estado.
Nesta altura, as 69 aeronaves avariadas e que passaram a ser propriedade do Estado estão à espera de clientes que se interessem pelo material, que será transformado em sucata. Trata-se de aviões totalmente degradados, alguns intactos e outros desmantelados, que estão há mais de 10 anos na placa do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.
Apesar de poder haver interesse na compra, as siderúrgicas queixam-se do excesso de burocracia para comprarem sucata no Aeroporto 4 de Fevereiro. "É um processo bastante longo e que exige muita paciência pela variedade de documentos que exigem e depois o tempo de resposta", afirma o responsável de uma siderúrgica em Luanda, realçando que nesta actividade a entrada da matéria-prima obedece a uma certa urgência para não paralisar a fábrica.
Questionada pelo Expansão, a SGA diz que não é da sua responsabilidade vender as aeronaves inoperantes que estão abandonadas no aeroporto. De acordo com o porta-voz da instituição responsável pela gestão da placa do aeroporto, Raul Jorge, a empresa é "apenas gestora do aeroporto" e o seu "objecto social é garantir que as companhias aéreas posssam ter os melhores serviços para poderem operar" no aeroporto. "Aeronaves não são propriedade nossa", remata.
Perigo para a navegação aérea
O responsável alerta quem estiver interessado em comprar sucata no aeroporto que devem contactar os gestores do património do Estado, à luz do edital do Ministério dos Transportes. "Os interessados devem olhar para o edital e cumprir com os pressupostos ali indicados e se chegam a nós, estamos dispostos a fazer a ponte, indicando os donos ou as instituições de direito", frisou.
Das aeronaves que se encontram no local a maioria pertence ao Estado: 32 são propriedade da empresa do sector empresarial público, Sonair, sendo 27 do tipo helicóptero e cinco aviões, e 37 são da Força Aérea Nacional, sendo 22 helicópteros e 15 aviões do tipo Boeing.
A Sonair era a empresa com mais aeronaves intactas na placa do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, mas em 2021 abriu o processo de alienação internacional, através do qual vendeu 5 cinco aeronaves do tipo helicóptero a uma empresa sul-africana. Segundo fonte da empresa, os meios estavam descontinuados e já se tornavam um perigo para a navegação aérea. Na memória está um acidente de 2015, quando um helicóptero se despenhou na rota Sumbe-Waco Kungo, tendo causado a morte de seis pessoas.