Comunicação social do Estado custou 386 milhões USD aos contribuintes em cinco anos
Nenhuma destas empresas conseguiria sobreviver sem o dinheiro do Estado. Em 2023, a TPA só conseguiu pagar 1,2% dos seus custos operacionais com as receitas geradas com a venda de publicidade. Já a Angop só pagou 1,4% dos seus custos, a Media Nova 5,3%, a RNA 10,6%, a Edições Novembro 12,5% e a TV Zimbo 38,6%.
Entre capitalizações e subsídios operacionais, nos últimos cinco anos, a comunicação social do Estado custou aos contribuintes 229,8 mil milhões Kz, equivalente a quase 386 milhões USD à taxa de câmbio de cada ano, de acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios e contas destas empresas. A Televisão Pública de Angola (TPA) é a campeão das ajudas do Estado e nem assim deixa de ser a empresa de comunicação social pública com piores resultados ano após ano, encontrando-se em falência técnica desde 2020.
Historicamente, têm sido cinco as empresas a fazer parte do grupo de empresas de comunicação social do Estado, nomeadamente a TPA, a Rádio Nacional de Angola (RNA), as Edições Novembro (dona do Jornal de Angola), a agência de notícias Angop e a Gráfica Popular, que está em processo de extinção, que já se sabe que levará à saída de mais de 100 trabalhadores, e, apesar de não apresentar relatórios e contas há três anos, recebeu o ano passado subsídios operacionais de 250 milhões Kz. A estas cinco empresas juntam- -se a TV Zimbo e a Media Nova ( jornal o País) que passaram para a esfera do Estado, no âmbito do processo de recuperação de activos constituídos com dinheiros públicos.
Uma vez que a Gráfica Popular não apresenta relatórios e contas há três anos, apenas é possível verificar as contas de seis destas empresas, pelo que só através do relatório do agregado das empresas do Sector Empresarial Público é possível apurar quanto é que o Estado já "meteu" na Gráfica Popular. Já a TV Zimbo e a Media Nova não apresentaram as contas completas. Entre a informação destas duas empresas que fica omissa está o número de trabalhadores, dado que também não surge no relatório do agregado publicado pelo IGAPE, indiciando que é uma espécie de "segredo de Estado" que ninguém quer revelar pelo segundo ano consecutivo.
Assim, só é possível contabilizar o número de trabalhadores da TPA, Edições Novembro, RNA e Angop, constando-se que passou de 5.417 trabalhadores em 2022 para 5.149 em 2023, equivalente a menos 268 trabalhadores.
Olhando para os relatórios e contas destas empresas, todas têm em comum o facto de dependerem de subsídios operacionais do seu accionista, o Estado, para sobreviver. Ou seja, todas elas são incapazes de gerar receitas suficientes para cobrir as suas operações. Só para se ter uma ideia, entre vendas e prestação de serviços, estas seis empresas geraram pouco mais de 4,6 mil milhões Kz: TV Zimbo 2,1 mil milhões Kz, RNA 1,1 mil milhões, Edições Novembro 1,1 mil milhões, TPA 236,0 milhões, Angop 77,0 milhões, e Media Nova 54,5 milhões.
De acordo com cálculos do Expansão, os resultados operacionais destas empresas (vendas e prestação de serviços) sem os subsídios do Estado apenas dariam para custear uma ínfima parte das suas operações. Os 236,0 milhões Kz da TPA dariam apenas para pagar 1,2% dos 20,2 mil milhões de custos operacionais da empresa, enquanto os 77,0 milhões Kz da Angop só pagam 1,4% dos 5.310,8 milhões Kz de custos operacionais. Já a Media Nova, as suas operações sem subsídios apenas pagam 5,3% dos seus custos de operação, enquanto os 1,1 mil milhões Kz de prestação de serviços e vendas da RNA apenas dariam para custear 10,6% dos 10,7 mil milhões Kz de custos operacionais, que englobam custos com pessoal e amortizações, entre outras despesas necessárias para o seu funcionamento. Já os 1,1 mil milhões Kz gerados pelas Edições Novembro só pagam 12,5% dos 8,4 mil milhões Kz de custos operacionais. Por fim, a TV Zimbo, que vem de uma gestão privada até que passou para a esfera do Estado há quatro anos, é a que está melhor, apesar de ser também ela deficitária. Os quase 2,1 mil milhões Kz em vendas e prestação de serviços garantem a cobertura de 38,6% dos 5,4 mil milhões Kz de custos operacionais.
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