Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Angola

Declínio da produção de petróleo angolano esfria financiamentos chineses

ANGOLA JÁ FOI O SEGUNDO MAIOR FORNECEDOR DE CRUDE À CHINA, HOJE É O OITAVO

Esta semana arranca o Fórum de Cooperação China-África, que será realizada em Beijing de 4 a 6 de Setembro, Angola está hoje mais "distante" do país asiático. E se a China continua a ser o nosso principal parceiro comercial e credor, já Angola representa uma migalha cada vez mais pequena no mundo chinês.

Angola caiu para o oitavo lugar do ranking dos países fornecedores de petróleo à China em 2023, ano em que a Rússia destronou a Arábia Saudita no fornecimento àquele que é o maior comprador de crude em todo o mundo. Angola, há quase dez anos a ver a sua produção petrolífera em declínio, não soube aproveitar o agigantamento da economia chinesa, ávida de petróleo para crescer.

À medida que a produção de petróleo em Angola foi recuando, e a entrada de novos players no horizonte, como os EUA, fez com que as relações com a China fossem esfriando, à semelhança do que aconteceu com os financiamentos deste país. Desde 2019, a China apenas emprestou dinheiro a Angola uma vez, tratando-se de um empréstimo de 79,7 milhões USD para um projecto de segurança pública ligado à vigilância anti-crime, desbloqueado em 2021. Um valor nada comparável aos quase 45 mil milhões USD que aquele país já emprestou a Angola desde 2002.

No espaço de quase duas décadas, a China agigantou-se e passou a ser o maior comprador de petróleo a nível global. Actualmente tem a segunda maior capacidade instalada de refinação do mundo e é responsável por 16,2% da refinação feita em todo o mundo, estando apenas atrás dos EUA, cuja quota é de 20,0%. Só para se ter uma ideia da aposta da China no "ouro negro", no ano de 2000 o gigante asiático gastou 13.191 milhões USD em importações de crude, valor que cresceu 829% para 122.537 milhões USD em apenas uma década. Já em 2022, o "dragão vermelho" importou o equivalente a 286.942 milhões USD em crude. E se em 2000 o crude angolano valia 12% do total das importações de petróleo pela China, saltando para 17% em 2010, foi precisamente a partir de 2014 que a o peso de Angola nesta "relação" começou a regredir até que em 2015 foi superada pela Rússia, baixando para o terceiro lugar no ranking dos fornecedores chineses, de acordo com cálculos do Expansão com base em dados do The Observatory of Economic Complexity (OEC). Ainda assim, a China continua a ser o maior comprador de petróleo angolano, embora a valores muito abaixo do que aconteceu nos anos dourados da indústria petrolífera no País na década passada.

E se a venda de petróleo à China caiu, significa que as trocas comerciais entre os dois países também encolheram. Só no espaço de uma década, as trocas de mercadorias (importação e exportação) afundaram 34,5%, equivalente a menos 10.600 milhões USD entre 2014 e 2023 (ver página 4). Os tempos áureos da venda de petróleo angolano à China foram precisamente em 2012 e 2013, com as exportações a renderem receitas brutas acima dos 30.000 milhões USD, numa altura em que a produção média angolana estava acima dos 1,7 milhões de barris por dia. Hoje, Angola produz 600 mil barris/dia a menos, o que acaba por condicionar o crescimento económico e agrava as dificuldades para pagamento da dívida externa. A falta de investimento nos últimos anos ditou esse declínio.

Foi isso mesmo que um artigo do jornal espanhol elEconomista referiu, que "o petróleo está a acabar numa das fontes favoritas da China e não há solução a curto prazo", referindo-se a Angola. "Uma relação económica estreita que tem vindo a esbater-se gradualmente à medida que a indústria petrolífera de Angola ficou para trás e Pequim forjou novas e convenientes amizades com outros países. Pequim tem abandonado o petróleo bruto angolano para cair nos braços dos países do Golfo e, sobretudo, da Rússia", refere o artigo publicado a 19 de Agosto.

O órgão de comunicação sublinha que Angola está a "tentar desesperadamente" manter a sua produção, lembrando que a saída da OPEP. "Esse movimento tem permitido que a produção aumente um pouco no curto prazo, mas no longo prazo a história é bem diferente. A China e os limites dos poços petrolíferos angolanos explicaram o futuro sombrio da indústria petrolífera desta ex- -colónia portuguesa", refere.

A relação de Angola com a China já tem várias décadas e, segundo a narrativa que vigora é que foi com o gigante asiático que os angolanos puderam contar no fim da guerra civil quando era necessário dar início à reconstrução do País, tendo Angola sido "pioneira" no conceito de empréstimos garantidos por petróleo. E, de acordo com a Boston University, nestas pouco mais de duas décadas foram quase 45 mil milhões USD em empréstimos contraídos junto da China e de bancos chineses, muitos deles para a construção de estradas, barragens hidroeléctricas, escolas ou financiar a Sonangol. Também uma boa parte terá servido para alimentar esquemas de corrupção.

Leia o artigo integral na edição 791 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo