Parque Nacional do Iona ainda está longe dos congéneres da região
Apesar das enormes diferenças entre os serviços disponíveis dentro do Iona e nos tradicionais parques naturais e zonas de conservação da Namíbia ou África do Sul, a província do Namibe apresenta vantagens comparativas, ao nível do acesso e dos preços das viagens, para os turistas angolanos.
Apesar da gestão privada, que assumiu as rédeas em Fevereiro de 2020, quando foi concretizada a parceria entre o Governo e a ONG African Parks, factores como a pandemia e a ausência de infra-estruturas turísticas e de lazer têm atrasado a recuperação dos 15.150 quilómetros quadrados de reserva e dificultado o fomento da actividade económica no interior do Parque Nacional do Iona, onde actualmente vivem cerca de 7.000 pessoas, naquela que é uma realidade ainda distante dos maiores parques naturais da região Austral.
Tanto no Parque Nacional de Etosha, na Namíbia, como no famoso Parque Kruger, na África do Sul, a oferta de safaris (passeios guiados para observar a vida animal) e de alternativas dentro das reservas para acomodação dos turistas é vasta e inclui diversas possibilidades para casais, famílias, empresas e outros grupos de visitantes.
Para os turistas internos, a grande vantagem do Parque Nacional do Iona está na proximidade e no preço - uma viagem de avião entre Luanda e Moçâmedes ronda os 100 mil Kz por pessoa, menos de um terço da ligação para Windhoek (Namíbia) e cerca de 15% do bilhete para Joanesburgo (África do Sul) -, para além da possibilidade de (re)descobrir o País. Em 2022, a reserva recebeu 998 visitantes.
"A vertente económica da nossa gestão é a que está mais atrasada. Mas antes de olharmos para o turismo precisávamos de ter tudo o resto a funcionar", justifica Pedro Monterroso, director do Parque Nacional do Iona, em conversa com o Expansão.
A abordagem geral da African Parks é sustentada em três vertentes: conservação da biodiversidade, desenvolvimento comunitário e geração de receitas e de oportunidades económicas. No último caso, as acções de cariz económico são importantes para sustentar e encaminhar recursos financeiros para a conservação, melhoria das condições de vida e de trabalho no interior dos parques.
O objectivo da organização "passa por valorizar aquilo que o Iona tem" e por "criar fontes de financiamento com a mínima dependência do Estado", explica Pedro Monterroso, que anunciou o início de um período de transição para que seja possível cobrar as taxas de acesso aos parques nacionais definidas recentemente. No futuro, o Iona deve ter uma tabela de acesso com preços específicos.
"O parque está aberto ao público e recebe visitantes com regularidade. Aconselhamos apenas que os visitantes contactem os nossos serviços com alguns dias de antecedência para adiantar e facilitar o processo de entrada no parque. Em termos de estadia, o acampamento é, por enquanto, a única possibilidade", descreve o responsável recrutado pela African Parks.
Nos próximos meses também está prevista a realização de obras de benfeitoria para melhorar as zonas de campismo e a identificação de possíveis parceiros para a construção de lodges no interior do Parque Nacional do Iona, ainda que o modelo de trabalho para concretizar estes investimentos não esteja totalmente definido.
"Estamos em conversações com o Governo para encontrar a melhor solução. Tipicamente, a African Parks identifica parceiros para investir na vertente mais turística, mas também pode avançar para um lodge próprio. Ou até desenvolver as duas possibilidades: investir nas suas instalações em determinada zona da reserva, enquanto outros investidores apostam noutras áreas dentro do parque", sublinha Pedro Monterroso.
História e números
A renovada base, que foi inaugurada com a presença de João Lourenço no último fim-de-semana, vai servir apenas a African Parks e as equipas de gestão do empreendimento. Naquela ocasião, Monterroso divulgou que desde o início da gestão privada já foram investidos mais de 10 milhões USD em infra-estruturas para o parque, recrutamento de pessoal, entre outras actividades.
De acordo com o relatório anual da ONG relativo a 2022, desde o início da parceria - o acordo firmado com o Ministério do Ambiente tem a duração de 20 anos - as despesas operacionais e de capital aumentaram 66% e os custos com os trabalhadores subiram 71%. Neste formato de parceria público-privada, o Estado (via Ministério do Ambiente e Instituto Nacional da Biodiversidade e Conservação) mantém a titularidade da reserva, mas assume um modelo de co-gestão operacional e financeira com a entidade privada.
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