Preços na saúde subiram 42% entre Janeiro de 2022 e Outubro de 2023
Entre Janeiro de 2022 e Outubro deste ano, a inflação acumulada bateu nos 28,5% e apenas três categorias viram os preços crescer acima dessa média: Saúde, Vestuário e Calçado e Bens e Serviços Diversos. Estas categorias juntas valem 13,5% do total dos gastos das famílias. Alimentação "vale" 55,7% das despesas dos angolanos.
Os preços da saúde subiram 42,0% entre Janeiro de 2022 e Outubro de 2023, sendo este o sector onde os preços mais cresceram neste período, de acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios sobre o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Só no ano passado, a categoria Saúde teve um aumento acumulado de 21,2% e este ano já vai em 20,9%, com o mês de Outubro a representar o período onde os preços mais subiram, com um aumento de 2,6% face a Setembro.
Segundo especialistas, o aumento dos preços na saúde tem essencialmente a ver com o sector privado, em que os preços dos medicamentos nas farmácias e das consultas nas clínicas privadas têm estado constantemente a subir. Há casos de vários medicamentos cujos preços mais do que duplicaram.
"O problema está nas clínicas que não param de aumentar os seus preços. E como o sistema público não consegue dar resposta, não há alternativas para quem pretender ter uma assistência médica melhor se não recorrer as clínicas", disse aos Expansão fonte do Sindicato dos Médicos.
A fonte acrescenta que têm sido notórios os aumentos de preços nos serviços privados das clinicas. "Os preços não param de subir. Há casos até de alguns aumentos acontecerem todos os meses. Desde o preço de um simples consulta ou análise, até a um determinado procedimento ou acto médico. Existem clínicas que hoje os preços aumentaram mais do que metade desde a pandemia", sublinha o membro do Sindicato dos Médicos.
Aumentos também sentidos por seguradoras que, por sua vez, se defendem aumentando os custos para os seus clientes. "Não temos alternativas. As clínicas não param de actualizar os seus preços. Não esperam acabar o ano, fazem no seu tempo. E esta factura acaba por ir para os segurados", explicou o responsável de uma das seguradoras que opera no mercado.
O gestor defende a necessidade de maior fiscalização de quem de direito nos preços praticados pelas clínicas. "A fiscalização tem de actuar. O Ministério da Saúde deve ser mais activo neste quesito. Não é possível os preços aumentarem como têm aumentado e ninguém dizer nada. Fala-se muito do aumento dos preços da comida, e entendo, mas nas clínicas, a situação é alarmante, e pouco se fala. Até os medicamentos aumentaram!", concluiu.
As clínicas defendem-se com a importação de material hospitalar, sem esquecer o custo das infraestrutura e pagamento dos colaboradores. "O aumento dos preços tem várias justificações. Entendo que seja uma preocupação, mas não podemos esquecer que importamos muito do material de usamos, porque o País não produz. E o Estado só fornece para o público. Há ainda a questão dos salários. Um quadro de pessoal competente tem uma folha salarial alta. E com o aumento do custo de vida, temos de ir actualizando os salários e ainda assim não cobrem todas as necessidades dos profissionais", disse a responsável de uma das clínicas de Luanda.
"Há a questão do espaço, porque muitas clínicas funcionam em locais arrendados e também não podemos esquecer que o aumento dos combustíveis também se reflectiu em nós, porque as clínicas têm geradores de alta potência e consumos elevados", concluiu.
Entretanto, fonte do Sindicato dos Médicos entende que esta situação do aumento dos preços vai continuar, devido à incapacidade os sistema público de saúde responder as necessidades. "Este quadro não se irá alterar tão cedo. O sistema nacional de saúde não consegue nem tem condições para responder à procura. A construção de grandes hospitais não é a solução. A melhoria da assistência na saúde pública passa pela existência de facto de uma rede primária e eficiente".
Leia o artigo integral na edição 751 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Novembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)