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Grande Entrevista

"Se deixarmos de vender para o mercado informal, os preços no consumidor final disparam"

Luís Diogo, director-geral da Fabrimetal

A Fabrimetal iniciou a sua produção em Angola em 2010 com uma capacidade de 3 mil toneladas/mês. Hoje tem uma capacidade instalada de 12 mil toneladas, investiu 32 milhões de dólares, tem uma facturação anual perto dos 50 milhões e emprega 455 cidadãos nacionais e 122 expatriados. Todo o projecto, modelo de negócio e ideias para o futuro na Grande Entrevista Expansão.

O que é hoje a Fabrimetal? Não apenas em Angola, mas num contexto africano, uma vez que está presente em sete países com unidades similares a esta.

A Fabrimetal pertence a um grupo empresarial familiar, a MMD Group, que tem hoje sete unidades industriais em África, nomeadamente Angola, RDC, Ruanda, Mali, Gana, Senegal e Burkina Faso. Começou há cerca de 12 anos, teve a sua génese numa primeira experiência na Etiópia, que não correu bem, e depois voltaram a reiniciar o processo na RDC. Kinshasa é a nossa primeira unidade. Angola foi a unidade número dois e está a produzir desde 2010.

Essas unidades são todas da família ou têm capital local, ainda que minoritário, nos países em que estão?

Têm sim, naquilo que acho que é uma boa estratégia, pois aproveitam-se recursos e experiências locais. No Senegal e no Gana temos partilha de interesses com outros accionistas no capital social. Em Angola, não.

Qual é a actividade da Fabrimetal no nosso País?

O nosso "core business" é a produção de varão de aço para armaduras de betão. Neste momento fazemos mais do que isso, que foi a nossa única actividade até Outubro de 2020, produzimos também produtos complementares ao varão de aço. Complementam o negócio, tal como as cantoneiras, as barras e os perfis, que são produtos para outro mercado, mais profissional, nomeadamente das pequenas metalurgias, das pequenas serralharias. É um produto que ainda não era produzido em Angola, nós fomos os primeiros.

Dirigem-se a outros clientes?

Têm um alcance de mercado diferente. São as micro, pequenas e médias empresas que fazem os portões, que fazem as janelas, esse tipo de negócio. Não quer dizer que as grandes construtoras não utilizem, mas é uma dimensão muito menor. Daí que a nossa estratégia para este produto, como não fazemos retalho, passou por encontrar quatro grandes revendedores e entregar a distribuição, digamos assim...

Numa lógica de cobertura nacional, ou apenas em Luanda?

Tal como acontece como varão de aço, apesar de estarmos apenas em Luanda, temos revendedores para toda a Angola. Os vendedores que nos compram têm distribuição em todo o País e queremos fazer exactamente o mesmo para as cantoneiras. Até porque é difícil uma construtora chegar aqui e comprar 10 toneladas de uma vez. Isso é impossível. Por essa razão é que devemos dar mais margem, mais espaço ao revendedor.

Se chegar aqui à porta da fábrica um cliente vocês vendem o produto ou mandam para o revendedor?

Não vendemos na fábrica, indicamos o revendedor. Isto se as quantidades estiverem abaixo daquilo que é o nosso standard. Se me disser que quer comprar 20 toneladas, eu faço-lhe a venda. Há aqui um aspecto muito importante que muitas pessoas se esquecem, nós não, que é o mercado informal. O mercado informal vale muita coisa e tem um peso significativo.

Também no produto principal da empresa?

No caso do varão já teve mais importância, felizmente que a economia se foi formalizando um pouco ao longo dos tempos. Durante muito tempo o facto diferenciador neste mercado era o preço, mas nós em 2015, mudámos de estratégia. Até então produzíamos essencialmente para o mercado, numa lógica de ter maior liquidez, mas nós tivemos que alterar isto. Coincidiu coma altura em que eu assumi a gestão.

Depois de pago o investimento vamos olhar para a margem...

Fundamentalmente fomos olhar e perceber efectivamente que Angola estava a mudar. As importações diminuíram por dificuldade de acesso às divisas e alguém tinha que estar preparado para responder à procura interna, e a nossa capacidade de oferta duplicou. O mesmo se passa com as cantoneiras e outros produtos para o mercado informal.

O mercado informal tem um papel importante?

Nós não queremos deixar de vender para o mercado informal. Temos o entendimento de que se nos abstrairmos disto, quem vai pagar mais é o consumidor. O mercado informal se conseguir ter acesso a produto de fábrica, consegue ter produto no mercado a preços mais estáveis. Se nós deixarmos de vender - o que aconteceu nos últimos quatro meses do ano em função de restrições que tivemos, por via da Covid e por via de problemas técnicos na fábrica no âmbito da energia -, os preços disparam no informal. Tivemos que escolher nessa altura porque diminuímos a produção, optámos pelos canais formais, as empresas de construção que nos compram, e o resultado foi que os preços subiram.

(Leia a entrevista integral na edição 612 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Fevereiro de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)