Falta de experiência e "práticas do passado" geram problemas operacionais no AIAAN
A mudança dos voos internacionais criou novos desafios ao funcionamento do novo aeroporto. Equipas ainda à procura de rotinas, falta de experiência de alguns profissionais, importação de práticas do passado e necessidade de maior coordenação entre as diferentes entidades envolvidas, são debilidades a ultrapassar.
O Aeroporto Internacional António Agostinho Neto (AIAAN), ainda em fase inicial de operação plena, começa a revelar fragilidades que contrastam com a dimensão e a modernidade da infraestrutura. Nos últimos dias, o Expansão constatou no local diversos constrangimentos operacionais que afectam directamente a experiência dos passageiros e expõem uma falta de articulação entre serviços essenciais, como imigração, alfândega, manuseamento de bagagens, alimentação e transportes.
Na sexta-feira, dia 12, um voo proveniente da África do Sul aterrou no AIAAN por volta das 19h00. Apesar da aterragem dentro do horário previsto, o processo de desembarque, controlo de passaportes e recolha de bagagens prolongou-se por cerca de duas horas. A maioria dos passageiros só conseguiu abandonar o terminal perto das 21h00.
Segundo relatos recolhidos pelo Expansão, a lentidão não esteve associada a um único factor, mas sim a uma sucessão de falhas ao longo da cadeia operacional. O serviço de bagagens neste caso era da responsabilidade da TAAG, que juntamente com a Avianor, garantem este serviço às companhias que operam no AIAAN. Além dos atrasos na entrega existem relatos do malas que não chegaram ao tapete, sendo que nesta fase, em que existem poucos voos internacionais, é o momento adequado para exigir aos intervenientes que melhorem o serviço.
Ainda nesta semana, outro episódio ilustrou problemas de natureza mais técnica, mas igualmente reveladores de défice de experiência operacional. Um avião proveniente do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, após estacionar na placa, não conseguiu acoplar à manga de desembarque. Foram feitas várias tentativas durante mais de 50 minutos. Chegou a equacionar-se o desembarque por escadas, até que se optou por reposicionar a aeronave. Só então a manga acoplou correctamente, num processo que, no total, demorou cerca de 1 hora e 25 minutos.
O Expansão apurou que o incidente resultou de um erro do operador de placa, que estacionou o aparelho numa marcação incompatível com o modelo da aeronave e a manga, sendo electrónica, não permite qualquer margem de adaptação fora do ponto exacto, tornando impossível o acoplamento.
Só quando o avião se movimentou para o local certo foi possível proceder ao desembarque, sendo que por falta de experiência o operador "entrou em pânico" e insistia que o problema era da manga.
"Na verdade, se fosse alguém com experiência, ao fim da segunda abordagem tinha logo dado ordens ao avião para estacionar no local correcto e não se perdia pelo menos uma hora. É verdade que os profissionais mais qualificados e experientes do 4 de Fevereiro nesta área não vieram para o AIAAN. Não entendo porquê", disse ao Expansão uma fonte ligada à gestão do aeroporto.
AGT e SME
Ultrapassado este constrangimento, os passageiros enfrentaram ainda um problema adicional na alfândega. A Administração Geral Tributária (AGT) encaminhou todos os passageiros para a linha vermelha, sujeitando-os a revista integral. De acordo com informações recolhidas pelo Expansão, esta prática é recorrente nos voos provenientes do Brasil, sendo um procedimento herdado do antigo Aeroporto 4 de Fevereiro.
Especialistas consideram esta abordagem inadmissível num aeroporto internacional moderno, uma vez que a linha vermelha deve ser reservada apenas para casos suspeitos, devidamente sinalizados, e não aplicada de forma indiscriminada. Com o aumento previsto do número de voos internacionais, este modelo torna-se operacionalmente inviável.
É necessário também que a AGT abandone a prática de "complicar" que tinha no 4 de Fevereiro, pois hoje a realidade deve ser diferente. Na imigração, os constrangimentos repetem-se. Vários passageiros relataram que, nas primeiras horas da manhã, quando chegam os primeiros voos do dia, dos 27 guichés disponíveis, apenas dois ou três se estavam em funcionamento. Houve situações em que foi necessário ir acordar os funcionários que ainda não se encontravam nos seus postos, originando filas longas e desnecessárias. Em termos práticos, explicam fontes ao Expansão, a gestão do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) deveria ajustar os efectivos aos picos de chegada, algo que, para já, não está a acontecer.
Transportes e Alimentação
No átrio central, existe apenas um quiosque de alimentação que serve simultaneamente passageiros em partida, em trânsito e pessoas que aguardam familiares. A concentração num único ponto resulta em filas longas e tempos de espera elevados. A isto juntam-se preços considerados proibitivos pela maioria dos utilizadores. Em paralelo, desenvolveu-se uma pequena economia informal. Um funcionário de limpeza revelou ao Expansão que, durante a tarde, uma senhora vende refeições caseiras de forma discreta, colmatando a ausência de oferta acessível dentro do terminal.











