O desafio de proteger os mais vulneráveis em tempos de Covid-19
É consenso mundial que a Covid- -19 tem tido um efeito devastador sobre o incremento das desigualdades, afectando principalmente os pobres (como se fosse insuficiente a sua já secular posição de marginalidade social e económica), as mulheres, as crianças e os menos educados, que perdem mais rapidamente os seus empregos.
Este fenómeno de desemprego - conhecido pela racional apetência de os empresários, em situação de crise, despedirem os menos capazes, experimentados e com menor formação/educação, preservando os restantes, mais difíceis de substituir e com mais elevada produtividade - foi suscitado pelo "lockdown", oportunidade para se libertarem excessos improdutivos de força de trabalho. Apesar das medidas de impedimento de dispensa de pessoal ou de obrigatoriedade da sua manutenção, o facto é que o desemprego aumentou em todo o mundo.
Se é verdade que a pandemia exacerbou a desigualdade, tornando-a mais insuportável (social, económica e moralmente falando) e mesmo mais desigual, a verdade é que este fenómeno tem sido a imagem de marca do crescimento económico em todos os países, parecendo que entre si e a melhoria da distribuição de rendimento se estabelece uma relação de "ódio", no sentido de quanto maior o crescimento menor a igualdade. Os estudos de Thomas Pikety (O Capital no Século XXI de 2013 e Capital e Ideologia, 2019) sobre a desigualdade no mundo confirmam-no plenamente. Estes estudos igualmente apontam para as falhas e insuficiências das políticas públicas, sendo o actual debate europeu quanto às medidas de apoio às franjas mais desfavorecidas um exemplo do desajustamento entre realidade e intervenção. No final do dia, o que se espera na Europa é que a pandemia conduza à escolha de outros modelos de maior resiliência social a incidências inesperadas. Igualmente a expectativa é a da aceleração da investigação médica e farmacêutica que antecipe a intervenção sobre este tipo de doenças.
O contexto que se vive actualmente no mundo é extremamente desafiante, atendendo a uma sondagem recente entre economistas de prestígio, que revelou que a grande maioria acredita que a pandemia da Covid-19 irá exacerbar a desigualdade, em parte devido ao seu impacto desproporcional sobre os trabalhadores pouco qualificados.
O mesmo estudo revela ainda que as grandes epidemias deste século elevaram a desigualdade de renda e prejudicaram as perspectivas de emprego daqueles com educação básica, não tendo afectado os portadores de qualificações superiores. Dando conta que, os mais vulneráveis ficam numa situação de extrema precariedade. E também vulnerabilidade.
A necessidade de proteger os mais vulneráveis é cada vez mais urgente em Angola, onde se assiste a uma busca desenfreada por alimento no lixo em diversos pontos das cidades do país, em especial em Luanda. É bem verdade que o Governo tem tomado medidas de modo a tentar reduzir o impacto da pandemia no grupo em questão, como, por exemplo, a introdução de programas de apoio tipo Kwenda(2), contudo essa medida revelou-se insuficiente e mais acções mostram-se necessárias.
*Economista
(Leia o artigo integral na edição 620 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Abril de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)