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Opinião

Teoria de Pavlov

Editorial

Ivan Pavlov, psicólogo russo que ganhou o prémio Nobel da Medicina em 1904, desenvolveu um método de condicionamento de atitudes, utilizado com grande sucesso para amestrar animais, que assentava na premiação do comportamento.

Se esticasse a pata à ordem do dono, recebia um doce, se ficasse quieto, era castigado. Se rebolasse, dois doces, se continuasse quieto, dois castigos. E por aí fora...

Obviamente que o animal tinha a faculdade de decidir o que queria fazer, mas, na verdade, não se pode afirmar que ele decidia num ambiente de liberdade. Até porque depois de levar umas dezenas de "chineladas" ele já nem pensava no doce, só esticava a pata para não sentir mais a dor. Um animal amestrado não pode ser confundido com um animal livre. E o próprio Pavlov nunca confundiu comportamento condicionado com liberdade de decisão ou de expressão.

Transportada, com as óbvias diferenças, a teoria para o mundo dos humanos, mantendo os mesmos princípios, alterou-se ligeiramente os conceitos, os "cidadãos patriotas" e os "mal comportados". Para os primeiros, que cumprem e elogiam repetidamente as ordens de quem manda, a possibilidade de acesso ao frasco dos doces, para os segundos, a realidade das difíceis condições de vida actuais, ao que se juntam os "tradicionais" castigos e punições sempre que se destacam. Aliás, este modelo só faz sentido se as condições básicas não estiverem ao alcance de todos e se mantenham muitos problemas por resolver, e que depois as soluções individuais sejam entregues sobre a forma de recompensa. Ou seja, uma estrutura social que não premeia a meritocracia, mas estimula a bajulação e a política da "mão estendida".

A luta nas sociedades modernas é fazer com que o conceito de liberdade cruze com a garantia de todos terem as mesmas condições e possibilidades de acesso às mesmas coisas. E liberdade de expressão com a possibilidade de todos poderem exprimir a sua opinião sem que daí advenham umas "chineladas" ou castigo. Naturalmente ao nível das ideias, porque esta não pode ser uma porta para a ofensa pessoal ou a difamação. Mas também é importante não confundir difamação com uma maneira diferente de ver um mesmo facto, nem se pode utilizar os meios que se tem ao dispor para tentar uniformizar o pensamento. Mesmo que seja uma grande tentação por parte de quem tem o frasco dos doces. Ou antes, e isto nas democracias, a quem o povo entregou a gestão do frasco dos doces. Porque é importante nunca esquecer que a riqueza nacional e os bens públicos são isso mesmo, públicos, e não propriedade de quem está no poder. E isto faz toda a diferença!