Famílias pessimistas há cinco anos consecutivos
A falta de confiança das famílias resulta da deterioração das condições de vida determinada principalmente pela inflação que tem agravado o poder de compra ano após ano. Os consumidores que estão pessimistas relativamente 2025 excedem os que estão optimistas em 19 pontos percentuais.
O pessimismo dos consumidores sobre a evolução da economia voltou a aumentar no III trimestre de 2024, um cenário que reflecte as dificuldades que as famílias têm enfrentado nos últimos tempos devido à alta de inflação e de desvalorização da moeda nacional, de acordo com o Indicador de confiança do consumidor (ICC) do Instituto Nacional de Estatística (INE). Desde que foi criado, os consumidores mostraram-se sempre pessimistas em relação à economia.
No III trimestre, o pessimismo agravou-se, com o indicador a passar de -17 para -19, o valor mais baixo desde o I trimestre de 2021 e o quarto mais baixo desde que há informação publicada pelo INE (IV trimestre de 2019).
Este aumento do pessimismo das famílias resulta da deterioração das condições de vida, sobretudo determinada pela inflação que cresce mais rapidamente do que os rendimentos, de acordo com economistas consultados pelo Expansão, bem como do contributo negativo de algumas das variáveis que compõem o indicador, nomeadamente a opinião sobre a situação financeira das famílias, a situação económica do país e a situação do desemprego nos próximos 12 meses.
Para se ter uma ideia, a previsão de aumento do nível de desemprego nos próximos 12 meses aumentou de 28 para 30 entre o segundo e terceiro trimestre de 2024, atingindo o terceiro pior valor desde 2019. Já as expectativas sobre a situação económica do país voltou a cair de -10 para -12, enquanto a situação financeira das famílias baixou de -5 para -12.
Há seis trimestres consecutivos que o Indicador de Confiança dos Consumidores, mantem a tendência descendente, realçando o baixo grau de optimismo das famílias angolanas.
Ao analisar a evolução deste indicador, verifica-se que desde o IV trimestre de 2019 que as famílias sempre estiveram pessimistas, embora este tenha sido atenuado no ano de 2022, precisamente o período em que o barril de petróleo superou os 100 USD e o kwanza foi apreciado artificialmente pelo BNA, para permitir o aumento das importações, o que acabou por se reflectir nos preços dos produtos importados (ver gráfico). Segundo o economista Fernandes Wanda, este "clima de eleições" que considera ser "atípico" acabou por se reflectir positivamente nas expectativas das famílias.
Só que, segundo o economista Heitor Carvalho, acabou-se por criar "uma situação insustentável. O Governo aproveitou o aumento dos rendimentos petrolíferos para baixar a taxa de câmbio, aumentar as importações e, com isso, baixar a inflação". Isto porque com o regresso do barril de petróleo a preços mais baixos e o fim da moratória da dívida concedida pelos credores devido à Covid-19, o País entrou numa "grave crise cambial com uma forte desvalorização da moeda nacional, em que o câmbio passou a ser efectivamente fixado, embora todos o neguem, acompanhada de uma grande escassez de divisas, que obrigou a cortes drásticos nas importações, a uma redução substancial das quantidades de produtos disponíveis e fez disparar da inflação", explica ainda o economista.
Importa também referir que em 2023, logo após as eleições, o Tesouro esteve ausente durante vários meses do mercado cambial e os bancos comerciais passaram a ter acesso a apenas a 600 milhões USD por mês, quando em 2022 a média de vendas mensais de divisas foi de 1,2 mil milhões USD. A falta de divisas face à procura que se manteve elevada fizeram com que o Kwanza depreciasse cerca de 39% em 2023, o que combinado com a queda das importações e efeitos da subida dos preços da gasolina, em Junho de 2023, fez disparar a taxa inflação para máximos históricos, e hoje já está acima dos 30%. Assim, o quadro macroeconómico tornou-se totalmente diferente, o que acabou por deteriorar a confiança do consumidor, cada vez mais fustigado com a subida dos preços dos principais bens de consumo.
Leia o artigo integral na edição 808 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)