Sectores da construção, turismo e comércio em pessimismo crónico
A actividade empresarial tem sido fortemente afectada pelo ambiente de negócios do País. Desde que o INE mede o pulso a empresários e gestores sobre as perspectivas sobre a evolução da economia no curto prazo, que há três sectores onde tem imperado quase sempre o pessimismo. O que reflete o estado do País.
Os sectores da construção, do turismo e do comércio são aqueles onde os empresários e gestores nacionais têm estado mais pessimistas ao longo dos anos em relação à evolução da economia angolana, já que as médias das respostas ao inquérito do INE sobre a conjuntura económica são mais negativas do que as positivas desde que o instituto começou a medir o pulso aos sectores.
Assim, a média do saldo das respostas extremas, que é a média entre as respostas positivas (confiança) e as negativas (pessimismo), no sector da construção é a mais pessimista, com -22 entre o III trimestre de 2008 e o III trimestre de 2024. Já o do turismo é de -8 entre Janeiro de 2011 e Setembro de 2024 e o do comércio é de -1 desde o III trimestre de 2008. Ou seja, nestes sectores as opiniões negativas sobre a evolução da economia no curto prazo tem mais respostas do que as opiniões positivas. No "limbo" encontra-se a indústria extractiva cuja média é zero.
A construção tem sido o sector mais afectado pelas sucessivas crises económicas do País, não só pela redução do investimento público mas também a retracção dos privados, sobretudo em áreas como o sector imobiliário nos últimos anos. Desde que o INE deu início ao inquérito da conjuntura económica, passaram-se 65 trimestres (16 anos) e em apenas 11 o saldo das respostas de gestores e empresários do sector foram positivas (ver gráficos). O pessimismo neste sector atingiu o ponto mais alto em 2015, na sequência da crise petrolífera, em que se deu uma autêntica "fuga" de empresas e de expatriados, o que acabou por prejudicar o imobiliário. Mais recentemente, a forte desvalorização do kwanza desde 2018 - quando o País avançou com a flexibilização cambial - acabou por ser a "machadada" final a um sector que depende fortemente da importação de materiais. Aliás, estas foram algumas das queixas que empresários do sector apresentaram durante um encontro com a equipa económica do Governo, que decorreu esta semana.
Luís Diogo, patrão da Fabrimetal e membro de direcção da Associação das Indústrias de Materiais de Construção de Angola (AIMCA) pediu maior protecção ao sector com medidas que visem a redução de importações de materiais já produzidos no País. Já o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, defendeu mais incentivos do Estado, bem como a necessidade de fomentar a habitação social para voltar a catapultar o sector da construção. Às preocupações dos empresários, o ministro de Estado para a Coordenação Económico, José Massano, revelou que a importação de materiais de construção - que entre Janeiro e Novembro de 2024 já consumiu 1,5 mil milhões USD - é "perfeitamente inaceitável", admitindo não ser admissível que não se tire proveito da produção nacional neste sector. Ainda assim, Massano revelou que o OGE tem 5,5 biliões Kz previstos para obras dentro do Programa de Investimentos Públicos, que poderão voltar a relançar o sector.
Turismo alivia pessimismo
Apesar de nos últimos 11 trimestres o sector do turismo apresentar mais confiança do que pessimismo, a verdade é que a média desde o I trimestre de 2011 é negativa, condicionada pelo forte desânimo verificado entre 2015 e 2021. As dificuldades financeiras, a insuficiência da procura, o excesso de burocracia e regulamentações governamentais, têm sido dos principais constrangimentos registados no sector, que continua a ter dificuldades em encontrar pessoal com formação apropriada e a ver o elevado absentismo do pessoal ao serviço a penalizar as empresas. E, a par do sector da construção, também o turismo, que em Angola depende muito do turismo de negócios, foi fortemente afectado pela conjuntura económica do País, em que a forte desvalorização acabou por tornar a nação menos apetecível a oportunidades de negócio. Menos empresas a deslocar-se ao país, menos ocupação das unidades hoteleiras, o que agravou as dificuldades do sector nos últimos anos.
Mas até a confiança "ganha" desde 2022 se tem vindo a esfumar (ver gráfico), o que segundo fonte da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) é um indicador de que algo não está bem no sector e que a tendência será agravar-se ainda mais, já que o balanço sobre a ocupação hoteleira e de número de turistas no País em 2024 não é dos melhores. O ano passado fecharam muitas empresas de hotelaria e restauração, o que aumentou ainda mais o desemprego e as incertezas dos empresários. E se a entrada de turistas estrangeiros (de negócios e lazer) está em queda, o mesmo acontece com os nacionais, que têm fugido aos elevados custos das dormidas, admite.
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