Yields de 13 das 15 eurobonds africanas em alta afastam novas emissões
Angola é o sexto país com a maior subida das yields nestas últimas três semanas, ao passar de 11,28% para 13,19%, depois de ter atingido os 14,32% a 17 de Abril. Este comportamento terá como factor principal o facto de, afinal, o preço do barril de petróleo não ter caído conforme chegaram algumas instituições a antever.
As yields da dívida de 15 países africanos que já emitiram dívida soberana em moeda estrangeira, os denominados eurobonds, subiram em média 1,7% após a 2 de Abril o presidente dos EUA, Donald Trump, ter dado início àquela que é hoje denominada a "guerra" das tarifas, apurou o Expansão com base em dados da agência Bloomberg. Este aumento das taxas de juro a que os investidores admitem estar disponíveis para cobrar para emprestar dinheiro a estes países acaba por constituir uma barreira ao endividamento da maioria destes países, que se vêm impossibilitados de se financiarem nesta altura em que a economia mundial está a desacelerar.
Devem, por isso, respirar de alívio os três países africanos que este ano fizeram emissões de eurobonds antes da hecatombe provocada por Trump: Senegal, Costa do Marfim e Quénia
Destes 15 países, apenas dois viram as yields descerem nas últimas três semanas, nomeadamente a Nigéria, já que passaram de 18,45% para 17,65% (-0,8%) e as Seicheles, passaram de 8,65% para 8,26% (-0,39%). Apesar da descida das yields nigerianas, o facto de os investidores apenas estarem interessados em emprestar dinheiro a troco de taxas de juro de 17,65% acaba por travar eventuais intenções de uma nova emissão (ver tabela).
O Gana é o país que mais viu as yields disparar entre o final de Março e esta quarta-feira, ao passar de 10,58% para 19,58%. Segue-se o Gabão (+4,01%), Moçambique (+2,73%), a Namíbia (+2,08%) e a RD Congo (+1,97%).
Angola é o sexto país com a maior subida das yields nestas últimas três semanas, ao passar de 11,28% para 13,19%, depois de ter atingido os 14,32% a 17 de Abril. Este comportamento terá como factor principal o facto de, afinal, o preço do barril de petróleo não ter caído conforme chegaram algumas instituições a antever. Esta quarta-feira, o preço do barril fechou a 68,2 USD, o que representa um crescimento de 5,6% face à semana anterior, o que favoreceu a descida das yields angolanas.
Embora seja ainda cedo para apurar como será a trajectória do preço do petróleo ao longo do ano, o crude continua a negociar abaixo do valor que o Governo inscreveu no OGE 2025 (70 USD). E por cada 5 USD abaixo dos 70 USD de referência no OGE, o défice orçamental duplica, pelo que o serviço da dívida pública ficará seriamente afectado caso a espiral descendente dos preços se acentue nos próximos meses.
"Os detentores dos bonds angolanos relacionam quase sempre a capacidade de o Estado pagar a dívida com o preço do petróleo, por ser de longe a principal fonte de arrecadação de receitas em moeda estrangeira. Essa alta dos juros afectam, essencialmente, a capacidade do Estado de se financiar nos mercados externos e os bancos comerciais, em Angola, que detêm em balanço as bonds, pois terão de fazer a reavaliação dos mesmos", disse uma fonte ligada a um dos grandes bancos comerciais da praça angolana.
Há também uma incertaza a nível global devido às políticas de comércio internacional anunciadas pelos EUA, às pressões políticas exercidas sobre a Fed e às preocupações mais generalizadas dos investidores com a estabilidade financeira mundial. Esta semana, o FMI reviu em baixa as suas previsões para o crescimento da economia mundial para 2,8% este ano, face aos 3,3% previstos em Janeiro, justificada pela "rápida escalada das tensões comerciais e os níveis extremamente elevados de incerteza política que deverão ter um impacto significativo na actividade económica mundial".
Assim, para o economista Mateus Maquiadi, o facto de Angola estar entre os países africanos com as yields mais altas das eurobonds é um claro sinal de alerta sobre a percepção de risco associado ao País. "Estar nesse grupo indica que os investidores colocam Angola numa posição de elevado risco soberano, o que compromete a sua reputação financeira e levanta dúvidas quanto à sustentabilidade da dívida a médio prazo", afirmou, realçando que esta posição impõe ao Governo a necessidade de reforçar a credibilidade externa, consolidar as contas públicas e melhorar a resiliência da economia, sob pena de continuar a enfrentar custos de financiamento proibitivos.
Ainda assim, Maquiadi entende que com taxas de juros em torno dos 13% ou 14%, Angola não fica necessariamente fora do radar dos investidores, mas passa a depender, sobretudo, de investidores com maior apetite ao risco, afastando fundos institucionais mais conservadores.
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