Falta de transparência marca entrada de empresa de Omã em Catoca e Luele
A novela que envolve geopolítica e valiosos activos empresariais chegou finalmente ao fim, depois de confirmada a saída dos russos da Alrosa do sector diamantífero em Angola. Nem o Governo, nem o velho parceiro estratégico da Endiama divulgaram os montantes envolvidos neste negócio.
Com a assinatura da escritura pública, no dia 26 de Maio, em Luanda, foi concretizada a entrada da empresa Taadeen, que alegadamente é uma subsidiária do Fundo Soberano de Omã (Oman Investment Authority, em inglês), no capital das sociedades mineiras de Catoca e Luele, que representam 97% da produção diamantífera em Angola.
As alterações societárias, que estavam em cima da mesa desde que rebentou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, levaram à saída do antigo parceiro estratégico, a Alrosa, embora até ao momento não tenham sido divulgados todos os pormenores sobre as movimentações, o que levanta dúvidas sobre transparência e acesso à informação nas empresas de capital público.
Ao longo de todo este processo, marcado por avanços e recuos e elevado secretismo, não foi anunciado publicamente o valor pago aos russos da Alrosa para garantir a entrada da Taadeen (que terá adquirido a sua participação directamente à Endiama), empresa que também não disponibiliza informações sobre o investimento efectuado nas duas maiores minas do País.
Se durante a semana foi divulgada a composição do novo conselho de gerência de Catoca, que passou a incluir dois membros de Omã, nada foi explicado sobre a repartição do capital da empresa entre os novos donos. Oficialmente, sabe-se apenas que a participação da Alrosa em Catoca era de 41% (a Endiama possuía os restantes 59%), enquanto a Sociedade Mineira de Catoca detinha 50,5% do Luele e a Endiama 44,5%. Reform, com 4%, e Instituto Geológico de Angola (IGEO), com 1%, detêm participações minoritárias.
Com a entrada da Taadeen, que não tem website activo (o Fundo Soberano de Omã não dispõe de qualquer referência àquela entidade na sua página oficial), não se sabe como foram reorganizadas as participações cruzadas nas duas empresas mineiras.
No que diz respeito à nova equipa de gestão em Catoca, é de assinalar a nomeação de Abdul Sattar Mohammed Al Murshidi, que assumiu o cargo de presidente do Conselho de Gerência (não-executivo) e de Tammam Al Mughairi, que passou a ser gerente não-executivo. Benedito Paulo Manuel, agora gerente executivo e director-geral de Catoca, deixou o cargo de presidente do Conselho de Gerência, mantendo as funções executivas mais importantes.
Engrácia Soito João, Andrei Dubno e Sergey Chuvilin (ambos representantes da Alrosa) também deixaram a equipa de gestão de Catoca, e deram lugar a Paulo Martins (gerente não-executivo), Alexander Reznik (área financeira) e Manuel Manassa, nomeado gerente não-executivo.
Não foram partilhadas informações actualizadas sobre a composição do conselho de administração da Sociedade Mineira do Luele.
Edição 829 do Expansão, de Sexta-feira, dia 06 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)