Lucros da Sonangol caem 21% entre 2023 e 2024
A empresa pública detém apenas cerca de 17% de direitos sobre a produção nacional de petróleo e uma quota média de apenas 24 mil barris/dia.
A maior empresa do País manteve, no exercício económico de 2024, a tradição lucrativa e no ano passado obteve resultados líquidos de 846 milhões USD (menos 21% do que em 2023), ainda que seja visível uma tendência de queda dos lucros anuais: em dólares, passaram de 2,1 mil milhões, em 2021, para os referidos 846 milhões USD em 2024.
Nos últimos seis anos, o único exercício no "vermelho" aconteceu em 2020, período em que a actividade económica nacional e internacional foi literalmente arrasada pelos efeitos da pandemia d Covid-19, com efeitos especialmente adversos na actividade petrolífera.
Foi também nessa altura que se registaram contabilisticamente as alterações de fundo efectuadas na estrutura de governação do sector em Angola, com a retirada da função de concessionária da Sonangol (esta actividade representava mais de metade da facturação da empresa) e passagem dessas funções para a Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG), criada de raiz em 2019.
Apesar deste contexto relativamente adverso, os custos operacionais do Grupo Sonangol passaram dos 7,9 mil milhões USD, em 2023, para 8,8 mil milhões USD em 2024, um aumento de 11,2%. "Este cenário explica-se devido a um aumento dos custos operacionais superior ao aumento das receitas operacionais, sobretudo nos exercícios de 2023 e 2024, quando as receitas operacionais aumentaram, respectivamente, em cerca de 26% e 15%, enquanto que os custos operacionais aumentaram, respectivamente, cerca de 40% e 22%. No exercício de 2022, comparativamente ao de 2021, para a queda do resultado foi determinante a redução dos resultados financeiros e dos resultados em investimentos em participadas", explica o economista Manuel Neto Costa.
Indicadores operacionais
No que diz respeito à produção de petróleo em 2024, verificou-se uma redução de 2% no volume total de barris exportados, factor que, aliado ao decréscimo do preço médio internacional, "impactou negativamente os indicadores operacionais e financeiros da empresa no exercício", assume a Sonangol no seu relatório e contas.
Devido aos acordos de partilha de produção e à relevância operacional das petrolíferas multinacionais (Total, Chevron, Azule Energy, entre outras), a Sonangol possui apenas cerca de 17% de direitos líquidos sobre a produção nacional de petróleo e uma quota de produção média de cerca de 24 mil barris por dia (a produção diária foi de 1,12 milhões de barris), que equivale a 2% da produção nacional.
O custo médio operacional da Sonangol (excluindo os custos de abandono), foi de 15,14 USD por barril, tendo-se verificado um maior nível de eficiência no Bloco 32, que registou um custo unitário de 4,66 USD. Contrariamente, o menor nível de eficiência observou-se nos blocos 4/05 e Cabinda Sul, com um custo de 61,52 USD/barril e 53,94 USD/barril, respectivamente.
As ramas de petróleo angolanas foram comercializadas, ao longo de 2024, a um preço médio de 80,136 USD por barril, contra um preço médio de 81,990 USD em 2023. Para os próximos anos, a petrolífera nacional estima preços médios por barril de 73,98 USD/barril em 2025, 71,05 USD em 2026, 76 USD em 2027, 80 USD em 2028 e um crescimento de 2% nos anos seguintes, naquele que é um exercício que parece demasiado optimista para o contexto actual.
Nesse sentido, o Conselho Fiscal da Sonangol afirmou, no seu relatório sobre o exercício financeiro de 2024, "ser prudente rever as estimativas para um valor mais próximo dos 60 USD por barril". Estas decisões podem ter impacto directo na actividade da empresa e no desempenho das contas públicas.
Na actividade de refinação e petroquímica, a refinaria de Luanda registou uma taxa média de utilização de 75% (3 pontos percentuais acima de 2023, segundo a Sonangol) e a autonomia doméstica média de produtos refinados foi cerca de 28% das necessidades em 2024. Ao longo do referido período, foram comercializadas em Angola 4,9 milhões de toneladas métricas de hidrocarbonetos.
Ao nível do capital humano, em 31 de Dezembro de 2024, o Grupo Sonangol contava com 7.724 colaboradores (79% tinham entre 26 e 45 anos), dos quais 7.249 activos e 475 inactivos. 71% estavam alocados à Sonangol E.P. e às subsidiárias que actuam no sector de petróleo e gás. Os restantes 29% estavam colocados nos negócios não nucleares. Só a Clínica Girassol tinha 1.357 trabalhadores.