Negócios não nucleares, corporate e refinação continuam "no vermelho"
As áreas de exploração e produção (upstream) e de gás e energias renováveis contribuíram para quase 84% das receitas da Sonangol. Desempenho negativo das áreas corporate e não nucleares não afectou os lucros.
As áreas de corporate, refinação e negócios não nucleares da Sonangol juntas tiveram resultados negativos na ordem de 303,1 mil milhões Kz, mas não o suficiente para prejudicar os resultados da Sonangol em 2021. A salvar as contas da petrolífera estatal estão duas áreas de negócio: a exploração e produção, e a área de gás e energias renováveis, trading e shipping e distribuição e comercialização, que juntas contribuíram com 1,6 biliões Kz para o regresso aos lucros. Deste valor, a área de negócios de exploração e produção foi responsável por 51% da receita da empresa, e logo a seguir vem a área de gás e energias renováveis com 33%. Ou seja, juntas valem quase 84% da receita.
Aliás, o processo de regeneração dividiu os activos da Sonangol em cinco áreas de negócio. A área de corporate corresponde à actividade da Sonangol enquanto EP, enquanto provedora de serviços corporativos para as subsidiárias, incluindo os investimentos financeiros. Já a unidade de exploração e produção inclui pesquisa, exploração, produção de petróleo bruto em Angola e no exterior.
A outra área com bons resultados estes ano é a Unidade de Gás e Energias Renováveis, que está focada na pesquisa, exploração, e produção de gás natural e energias renováveis. A unidade de negócios não nuclerares inclui actividades não nucleares do grupo como serviços de aviação, saúde, formação, gestão imobiliária, telecomunicações e outros investimentos financeiros considerados "non core".
A Sonangol tem participações em várias empresas que actuam em áreas que vão desde o turismo à saúde, mas do universo de mais de 30 empresas em 2021 apenas 9 distribuíram dividendos ao accionista Sonangol, no valor de 42,9 mil milhões Kz. Em 2021, o Sonasing Xicomba e Unitel foram responsáveis por 82,70% do valor distribuído pelas empresas não core à Sonangol.
No ano passado, o número de empresas a entregar dividendos à Sonangol subiu para 13 ,tendo a PT Ventures sido responsável por 452,6 mil milhões Kz. Ou seja, sozinha, a antiga accionista da Unitel (que vendeu os seus 25% à Sonangol) foi responsável por 84% dos dividendos recebidos pela Sonangol.
Sonangol não entrega dividendos ao Estado
O Expansão constatou que a Sonangol não entrega dividendos ao Estado desde 2019, segundo o relatório do IGAPE. De acordo com o colaborador do CEIC, José Oliveira, para que a Sonangol tenha dividendos a entregar ao accionista e possa avançar para a sua privatização é fundamental assegurar que o Estado pague o que lhe deve. "Enquanto o Estado mantiver uma dívida tão elevada para com a Sonangol ela não pode deixar de ser devedora para com os fornecedores de combustíveis, nem investir à medida das suas necessidades de desenvolvimento, nem cumprir atempadamente com a cobertura dos Cash Calls mensais nos blocos em que é parceira dos operadores", disse Oliveira.
Para o especialista, isto só desprestigia a petrolífera estatal a nível interno e externo e se esta situação não se inverter "já não vai ser possível em 2023 ou 2024 começar a privatização parcial do seu capital com sucesso". Para o colaborador do CEIC, os investidores estrangeiros idóneos não vão comprar acções de uma empresa estatal que tem problemas de tesouraria porque o seu proprietário é o maior devedor.