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Investimento estrangeiro fora do sector petrolífero cai 37% para 124 milhões USD

EM 2023

Este é o pior Investimento Directo Estrangeiro no sector não petrolífero desde que há registos, com excepção a 2020, início da pandemia da Covid-19. Na base do mau ambiente de negócios do País, marcado pela queda do kwanza, está a alta inflação, a burocracia e a falta de infra-estruturas.

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) no sector não petrolífero caiu 37% para 124,0 milhões USD no ano passado, face aos 197,6 milhões USD registados em 2022, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas do Banco Nacional de Angola (BNA).

Trata-se do pior investimento estrangeiro fora do sector petrolífero desde que há registos, com a excepção de 2020, devido à pandemia da Covid-19, quando o País registou apenas, 113,4 milhões USD. Na base está o quadro macroeconómico do País, já que no ano passado a queda nas exportações, sustentadas pelo petróleo, provocou uma diminuição nas receitas fiscais, sobretudo as do sector petrolífero, o que conjugado com a manutenção da pressão importadora, bem como da incapacidade em obter financiamentos, quer internos quer externos, empurrou o País para uma crise cambial e de tesouraria. Isto provocou a queda do kwanza para níveis históricos, que acompanhado pela diminuição dos subsídios à gasolina, provocou uma escalada nos preços. A isto junta-se ainda o facto de o País estar associadoa um elevado nível de burocracia e poucas infra-estruturas de base para acomodar os investidores.

O Investimento Directo Estrangeiro ocorre quando uma entidade não residente em Angola compra total ou parcialmente uma empresa no País, adquirindo uma participação do seu capital, com o objectivo de controlar ou influenciar a sua gestão. Além das aquisições de empresas existentes, o IDE inclui a constituição de novas empresas ou sucursais, aumentos de capital, reinvestimento de lucros e prestações suplementares, entre outras operações.

Assim, o peso do investimento do sector não petrolífero, no IDE em 2023 fixou-se em 1,5%, número abaixo dos 8,6% registado em 2018, período em que o País teve o maior valor dos últimos 10 anos, quando o IDE não petrolífero se fixou nos 647,8 milhões USD. O facto de apenas 1,5% do investimento estrangeiro em Angola ter sido realizado fora do sector petrolífero é um claro sinal de que o petróleo é e continuará a ser o grande motor da economia nacional e é o sector que garante maior confiança aos investidores.

Para o economista e coordenador do Centro de Investigação Social e Económica, da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto, Fernandes Wanda, o fraco investimento no sector não petrolífero tem a ver com a situação macroeconómica, caracterizada pela instabilidade do kwanza, pelo aumento da inflação e na ausência de boas infra- -estruturas, o que, segundo o economista, causa incertezas no retorno de qualquer investimento, e não é diferente para Angola.

"Podemos dizer que a governação não tem conseguido levar a bom porto o processo de diversificação económica. O interesse em investir em Angola existe, basta vermos a manifestação de interesse nos relatórios da AIPEX, mas para que os projectos sejam materializados é preciso ter um quadro macroeconómico que garanta um retorno favorável. Ninguém investe para ter prejuízo, especialmente devido à depreciação da moeda", aponta Fernandes Wanda.

Por sua vez, Heitor Carvalho, director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (Cinvestec), entende que o fraco investimento no sector não petrolífero se deve ao facto de Angola não ser um país competitivo. "Até podemos melhorar, mas se os outros melhoram mais do que nós perdemos competitividade. Continuamos extremamente arrogantes e exigentes com os investidores externos em vez de os receber com regras claras, permanentes e com garantias de protecção", disse.

Forte concorrência de outros países

Heitor Carvalho realça também que o ambiente negócios continua a ser uma barreira, devido às variações da taxa de câmbio, às alterações das regras sem um prazo adequado para a adaptação, "às ordens superiores que substituem a lei", à falta de títulos, e um sistema bancário que não dá crédito, entre outros problemas. "Há uma concorrência feroz por investimentos. Quanto mais difíceis nos tornamos, mais investimento vai para os outros", reforçou.

Leia o artigo integral na edição 768 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)