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Participação angolana na Galp está a "ganhar" 2.615,7 milhões EUR

COTAÇÃO DA PETROLÍFERA PORTUGUESA DISPAROU COM GRANDE DESCOBERTA NA NAMÍBIA

O investimento que o grupo luso-angolano fez desde 2005 para comprar participação na Galp superou os 1.805 milhões EUR. Mas desde essa altura já recebeu mais de 2.090 milhões EUR só em dividendos, o que significa que o investimento já está pago. Participação angolana está hoje nas mãos da Sonangol.

Caso a Sonangol vendesse hoje a sua participação indirecta na Galp Energia, aproveitando a valorização em alta da petrolífera portuguesa em bolsa devido à importante descoberta comercial na Namíbia, obteria uma mais-valia potencial de 2.615,7 milhões EUR, de acordo com cálculos do Expansão sobre os relatórios e contas da petrolífera portuguesa.

Afastada que está Isabel dos Santos da holding de capitais angolanos Esperaza, a Sonangol passou a deter sozinha 45% da Amorim Energia, que é a accionista de referência da Galp, com 33,34% das acções. Fazem ainda parte da estrutura accionista da Amorim Energia a Power, Oil & Gas (35%) e a Amorim Investimentos (20%), empresas cuja participação pertence à família do falecido empresário português Américo Amorim.

Em 2005, a Amorim Energia adquiriu um terço das acções da Galp Energia num negócio que envolveu 1.700 milhões de euros. Em 2011, a compra de 5% aos italianos da ENI envolveu o pagamento de 590 milhões. Só que, já em 2016, a Amorim Energia vendeu por 485 milhões a mesma percentagem que tinha comprado à ENI, num negócio que representa uma menos-valia de 105 milhões de euros face ao negócio decorrido cinco anos antes. Na altura, e de acordo com vários analistas, esta operação apenas se desenvolveu devido a uma pressão "vendedora" dos sócios angolanos da Amorim Energia. Contas feitas, desde 2005, entre compra e venda de acções, a Amorim Energia gastou 1.805 milhões de euros, dos quais 812 milhões foram suportados pela Esperaza Holding.

Cada acção da Galp na bolsa lisboeta estava cotada à tarde desta terça-feira em 19,94 euros, depois de a petrolífera portuguesa ter confirmado ao mercado que o projecto petrolífero na Namíbia, onde é operadora, representa uma "importante descoberta comercial", com um potencial de 10 mil milhões de barris de crude. Num só dia, a Galp, que deixou a produção de petróleo em Angola há cerca de um ano, ganhou mais de 2.500 milhões de euros em capitalização na bolsa.

Isto fez com que a participação de 33,34% do grupo luso-angolano na petrolífera portuguesa valha hoje 5.525,6 milhões de euros. Contas feitas, a Amorim Energia pagou 1.805 milhões de euros por uma participação que hoje vale mais 3.720,6 milhões de euros.

Mas se a esta mais-valia potencial de 3.720,6 milhões de euros somarmos os dividendos de 2.091,5 milhões recebidos pela Amorim Energia desde 2005, concluímos que se vendesse a participação hoje a empresa luso-angolana teria ganho 5.812,1 milhões de euros com este investimento (3.720,6 milhões da venda a juntar aos 2.091,5 milhões entretanto já recebidos em dividendos).

E se a Amorim Energia "ganha" 5.812,1 milhões de euros, a Esperaza tem 45% desse valor, ou seja, 2.615,4 milhões de euros. A partir daí as contas são simples de fazer: trata-se do melhor investimento feito pelo Estado angolano lá fora, ainda que tivesse sido iniciado entre "portas e travessas", com a Sonangol a entrar como sócia de Isabel dos Santos e do seu então marido Sindika Dokolo.

Só que em 2021, um tribunal nos Países Baixos, onde a Esperaza está registada, deu razão à Sonangol e afastou a filha do ex- -Presidente da República, já que considerou nula a transferência de 40% das acções da Esperaza Holding em 2006 para a Exem Holding, controlada por Sindika Dokolo e Isabel dos Santos. Desta forma, o tribunal arbitral considerou a Sonangol como única accionista da Esperaza.

Todos os anos se tem falado sobre a possibilidade de a Sonangol vender a sua participação indirecta na Galp, com o presidente da petrolífera angolana, Sebastião Martins, a dizer que em Fevereiro que "há muita pressão" para vender a posição na companhia portuguesa, assegurando, no entanto, que isso não irá acontecer. "Sei que há muita pressão, provavelmente de uma série de empresas e fundos estrangeiros interessados em que isto aconteça", afirmou há cerca de dois meses, à margem do aniversário da Sonangol.