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Grande Entrevista

"Alargar o prazo de pagamento da dívida à China trará alívio e liquidez à economia do País"

Grande entrevista com Otaviano Canuto ex-Director Executivo do FMI

O também vice-presidente do Banco Mundial de 2009 a 2013 afirma que renegociar a dívida é bom no curto prazo, por trazer alívio e liquidez, mas alerta que por não se tratar de uma suspensão os juros acumulam e pode ser mais difícil pagar depois. Sobre o petróleo, recomenda cuidados, aconselhando a Sonangol a ficar no seu core business.

Angola está a negociar a dívida com credores externos ao abrigo da iniciativa do G20. O País negoceia igualmente com a China a suspensão do pagamento da dívida por três anos. Que impacto poderão ter estas negociações na economia angolana?

A China não está a entrar em alívio de dívida, mas a empurrar para a frente os pagamentos, à semelhança do adiamento do pagamento da dívida até ao final do ano, promovido pelo G20. Mas, tal como a China, haverá certamente do lado das instituições multilaterais e outros países reestruturação da dívida mais do que adiamento.

Que países podem ver a sua dívida reduzida?

Principalmente nos casos em que os países estão insolventes. Não tenho noção do caso de Angola, não sei se é um caso de falta de liquidez, porém há dúvidas quanto à solvência.

O que acontecerá com as dívidas dos países insolventes?

Para dar um exemplo, vamos olhar para a Argentina, país em que estava claro que a dívida era insolvente. Não tem sentido instituições multilaterais colocarem dinheiro numa conta que você sabe que é insolvente.

Qual será o resultado?

O único resultado disso vai ser viabilizar o pagamento dos investidores externos. Tal como aconteceu com a Grécia no segundo financiamento do Fundo Monetário Internacional e, recentemente, com a Argentina. O dinheiro do Fundo Monetário Internacional que entrou para a Argentina, no ano passado, só serviu para facilitar a saída dos credores privados externos.

E depois o prejuízo fica para os restantes?

Sim. Acho que vai haver uma pressão enorme para ocorrer algum tipo de alívio da dívida, seja sobre a forma de reestruturação, que resulte na redução do tamanho da dívida dos países insolventes.

É isto que os credores que aceitam adiar o pagamento do serviço da dívida esperam?

Claramente. Querem adiar, segurar o pagamento por alguns meses ou três anos de alívio, esperando que no final deste período não tenham de fazer, como se diz em inglês, o hair cut, ou seja a redução da dívida!

Mas qual será o impacto deste adiamento no pagamento do serviço da dívida à China ou outros credores na economia de Angola?

A possibilidade de postergação do serviço da dívida à China corresponde a um alívio de liquidez. São compromissos de serviços de dívida no futuro imediato, quer seja até ao final deste ano ou de três anos, como é o caso de Angola, como mencionou. Mas isso é um alívio de liquidez, cujo resultado vai depender muito de onde o País devedor estará no que diz respeito aos fundamentos, no que diz respeito à solidez da dívida.

Pode explicar melhor?

O impacto que a restruturação ou negociação da dívida pode ter nos países que aderiram à iniciativa do G20 ou que estão a negociar directamente a dívida com os seus credores tem resultados diferentes, consoante as três situações que passo a explicar. No caso dos países em que ocorreu, agora, o choque financeiro externo do coronavírus estão numa situação com perspectiva de uma trajectória da dívida pública em relação ao PIB sólida. Estes países estão a sofrer apenas um choque de fluxo, que desapareceu da noite para o dia. Neste caso, óptimo, maravilha.

(Leia o artigo integral na edição 582 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Julho de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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