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Grande Entrevista

"A verdade é que o banco BIC está a ser ostracizado pelo Poder"

FERNANDO TELES, EMPRESÁRIO

O banqueiro revela também que o Estado não tem cumprido com a banca alguns dos compromissos assumidos, gerando desconfiança no sector. Confirma que Isabel dos Santos se mantém como accionista do BIC e que participa em todas as assembleias

Nos últimos anos tem estado mais ligado à actividade agrícola, mas uma declaração na festa do BIC acabou por tornar-se viral nas redes sociais, e trouxeram-no de volta ao mundo da banca. Estava à espera desse impacto?

Não estava à espera deste impacto. Fui falar para os trabalhadores como fundador do banco. Nestas circunstâncias, é normal que lhes digas quais são as minhas preocupações, os nossos problemas, como é que vejo o futuro, como é que estamos no sector bancário. E foi isso que eu fiz. Não estava à espera que estivesse alguém a filmar e que fosse colocado nas redes sociais mas pronto, eu acho que aquilo que eu disse é a realidade, é verdade, não há mentira nenhuma. Os trabalhadores aplaudiram muito, mas não resolveu problema nenhum.

Sempre foi conhecido por ser um homem da banca

A banca é um sector onde eu estou há 59 anos. Eu fiz dois bancos em Angola, o Banco de Fomento Exterior, mais tarde BFA, e o Banco BIC. Acho que sou uma pessoa que sempre dei a cara, sou credível, nunca enganei ninguém. Dei crédito a muitos empresários que hoje sabem que cresceram com o Banco BIC e com o Banco de Fomento, em momentos em que eu também arrisquei com eles.

Fala várias vezes desse percurso

Quando saí do BFA para fundar o Banco BIC, éramos líderes de mercado em depósitos e crédito. No BFA não era accionista, mas tinha distribuição de resultados e sentia-me bem no banco. Quando vim para o BIC, continuei a procurar fazer o melhor possível. A verdade é que nós hoje estamos com 2.150 trabalhadores no BIC como emprego directo, porque se contarmos depois com os seguranças, com as pessoas da limpeza, são 4 ou 5 mil trabalhadores.

Hoje ainda acompanha os negócios do banco?

Acompanho totalmente os negócios do banco. Vejo os balancetes todos os meses, vejo todos os mails trocados entre administradores. Desde que seja para o grupo de administração, eu leio e também comento, dou as minhas achegas. Hoje já não sou administrador, sou assessor do presidente da Comissão Executiva.

Mas ainda impõe a sua vontade no banco ou não?

Eu nunca impus a minha vontade. Logicamente, quando é um assunto que preocupa mais a instituição, tem que ir à Assembleia Geral. E na Assembleia Geral, eu como accionista, e representando 57,5% do capital, tenho esse peso. Mas os outros accionistas sempre estiveram comigo. Aliás, posso fazer a inconfidência e dizer que a própria engenheira Isabel dos Santos, que até hoje ainda tem 42,5% do banco, se votou contra alguma posição minha nestes 20 anos, foi uma vez ou duas, coisas que eu até nem achei relevante.

Ela continua a participar nas Assembleias Gerais?

Ela participa em todas as Assembleias Gerais. Não lhe foi retirada a confiança em termos de participação como accionista nas assembleias gerais do banco. E dá a sua opinião. Sempre que há alguma coisa que não está de acordo, também diz que não está de acordo. Mas a verdade é que normalmente as nossas decisões são por consenso. Procura-se, cada um cede um bocadinho e depois, no final, acaba por se conseguir algo que tem o contributo de todos.

Este seu pronunciamento público mostra preocupação. Está preocupado como o Banco BIC?

Eu sinto-me preocupado porque nós hoje estamos bem capitalizados, temos cerca de 31% de rácio de solvabilidade, mas não estamos a fazer o negócio que podíamos fazer. E a verdade é que estamos a perder este negócio para concorrentes que nem sequer agências têm. São concorrentes que só estão em Luanda e a beneficiar de algumas operações dirigidas.

Estão perto do poder

Neste momento, não há razão nenhuma para sermos ostracizados pelo poder. Mas a verdade é que estão a ostracizar o Banco BIC. De Janeiro a Março, e foi isso que eu disse naquela intervenção, não nos venderam divisas três meses seguidos. Não é possível um banco que é líder de mercado, que é o banco que mais crédito concede à economia, que tem mais agências, que tem 2.150 trabalhadores, não poder ir ao mercado e comprar divisas.

São vendas dirigidas...

Eu percebo algumas operações que se fazem com o banco A ou o banco B, mas não pode é ser tudo. Isso pode destruir uma instituição como a nossa. Tenho aqui um mapa de Janeiro a Março, o Banco BIC, em quase 600 milhões USD de venda de divisas, comprou zero. E foram operações organizadas pelo Ministério das Finanças e pelo Banco Nacional de Angola. Se me dissessem assim, mas são vendas das petrolíferas, eu poderia aceitar e dizer, se calhar não apresentei a taxa, o valor devido em termos do câmbio, mas não é o caso. São operações em que as pessoas são chamadas para as fazer. E não tem lógica que o maior banco não seja chamado. Não é normal.

Acha que isso tem a ver com o facto de a Isabel dos Santos ser sócia do banco? O BIC é prejudicado por este facto?

É o que me dizem algumas pessoas que estão em instituições públicas. Dizem que o Banco BIC, enquanto tiver a participação da Isabel dos Santos, vai ser preterido. Mas eu acho que isso é errado, porque não se pode tentar deitar abaixo um banco que é o que mais crédito concede à economia. Nós estamos desde 2019 sem receber, por exemplo, as bonificações do Angola Invest. Eu tenho estado calado, mas estamos a ser atacados. Tenho uma situação ainda mais grave: não vou falar dela aqui agora, mas não é normal que se destruam empresas ou instituições que já mostraram que contribuíram muito para o desenvolvimento da economia angolana.

Leia o artigo integral na edição 830 do Expansão, de Sexta-feira, dia 13 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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