"O turismo é um dos pilares da economia moçambicana, Angola pode beber da sua experiência"
Perante o actual quadro económico do País, a presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Angola- -Moçambique (CCIAM) defende que só com a adopção de políticas macroeconómicas eficazes será possível impulsionar o empreendedorismo e garantir que o crescimento económico beneficie todas as camadas da sociedade.
Angola e Moçambique são dois países lusófonos com fortes laços históricos e culturais, mas em termos económicos os números são pouco animadores. Há alguma explicação para isto?
Angola e Moçambique são países irmãos e, de facto, têm em comum também a parte cultural, foram colonizados pelo mesmo país, Portugal, e, portanto, têm muitas coisas em comum, além de fazerem parte da CPLP e da SADC. O comércio entre os dois países é exíguo devido a diferentes factores, entre eles a guerra civil que afectou os dois países e isso teve implicância no abrandamento das relações económicas. Agora é que se está a dinamizar a cooperação e a Câmara de Comércio quer ser o veículo impulsionador para o incremento das trocas comerciais. Actualmente existem 36 acordos assinados entre os dois governos que vão igualmente potencializar o comércio, portanto, a partir de agora eu penso que o cenário vai começar a mudar.
Qual é a balança comercial entre os dois países nos últimos anos?
A balança comercial é favorável a Angola, que exporta para Moçambique fundamentalmente combustível para aviões Jet A1. A título de exemplo, as trocas comerciais entre os dois países lusófonos fixaram-se, até Outubro do ano passado, em 10,4 milhões USD, tendo Angola adquirido de Moçambique algum equipamento e bens alimentares avaliados em 3,4 milhões USD. Mas as perspectivas são bastante animadoras.
A vossa organização goza do apoio dos dois governos?
Sim, nós temos o apoio institucional dos dois governos e vamos fazer o lançamento da Câmara em Moçambique, a 15 de Novembro, depois de o termos feito em Luanda também em Novembro do ano passado. Acredito que após a inauguração dos escritórios em Moçambique vamos fazer muito mais negócios, porque também há um interesse muito grande da classe empresarial local para o estabelecimento de parcerias com os empresários angolanos. Neste momento, a Câmara possui cerca de 70 associados, todos nacionais. Outras empresas estão em stand-by do lado moçambicano para que, quando fizermos a abertura da nossa sede em Maputo, possam já fazer a sua inscrição.
Em relação às trocas comerciais, o que é que se deve esperar para este ano?
Apesar de não serem diversificadas, incluem diferentes sectores da economia e a perspectiva é de aumento, embora de forma modesta. Moçambique tem exportado algum marisco para Angola e também materiais de construção, que timidamente entram em Angola. Eles também tentam colocar aqui alguns produtos agropecuários, pois são grandes exportadores de produtos agrícolas, como amendoim e açúcar que podem ser adquiridos por Angola.
Há algum impedimento para o desenvolvimento normal das relações económicas?
Existem desafios, que são as infraestruturas e a logística, factores essenciais no comércio entre os dois países. Penso que a falta de infraestruturas de transporte directo e eficiente entre os dos países, às vezes, dificulta as transacções comerciais, por isso, gostaríamos, por exemplo, que os comboios dos Caminhos-de- -Ferro de Benguela (CFB) pudessem chegar a Moçambique no médio prazo. Há um grande interesse entre os países em diversificar as economias e reduzir a dependência de um único produto ou sector e a interacção pode abrir novas oportunidades no comércio em áreas, como a tecnologia e o turismo, onde Moçambique tem muito know-how.
Já que falou da importância do CFB chegar até Moçambique. Como avalia o Corredor do Lobito, no âmbito da diversificação da economia?
O Corredor do Lobito é uma mais- -valia para Angola. Tudo o que está à volta daquele perímetro vai ser dinamizado. Fala-se da construção de infraestruturas, investimento na agricultura, o que será muito bom para Angola. É neste tipo de investimento que o País tem de apostar para a diversificação da sua economia, na medida em que precisamos de captar investimento, produzir e reduzir as importações.
Acredita que o turismo poderá ser no futuro a base para o relançamento das relações económicas entre os dois países?
O turismo é um dos pilares da economia moçambicana e Angola pode beber muito da experiência daquele país neste sector. Recentemente, a Câmara de Comércio fez um webinar que contou com a participação do INFORTOR e INATOR de Moçambique. O evento foi muito interessante, porque Angola quer dinamizar também o sector do turismo e Moçambique é um player internacional muito importante que pode apoiar o nosso País. Portanto, a dinamização do turismo em Angola vai fazer com que esta parceria entre Angola e Moçambique possa acontecer
Estava previsto para este ano a realização de um Fórum Económico em Luanda entre empresários dos dois países. Como está o assunto?
Foi acordado na visita efectuada este ano a Moçambique pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, que Angola e Moçambique iriam realizar um fórum anual de negócios, incumbiu-se as câmaras de comércio de o fazer e estamos a preparar o evento. Nesta altura, estamos à espera para estabelecer o melhor calendário, dado este ano ser de eleições presidenciais e legislativas em Moçambique, que acontecem em Outubro. Decorre, neste momento, a campanha eleitoral e este cenário altera todos os programas por isso tivemos de adiar o Fórum. O evento vai ser uma oportunidade para trazer empresas moçambicanas cá, dos mais diversos ramos. Por exemplo, há uma fábrica moçambicana que quer fazer trading de mariscos. Temos igualmente o registo de duas empresas moçambicanas que já visitaram o nosso País e querem estabelecer-se por cá. Uma exporta o amendoim e outra pretende montar um rent-a-car.
Olhando para as potencialidades de Angola, o que acha que o País pode oferecer a Moçambique, além do petróleo?
Olha, nós temos muitas empresas a contactar a Câmara de Comércio para ir a Moçambique fazer negócios. Temos de apostar forte na agricultura e depois na dinamização do sector industrial. Ou seja, a industrialização vai fazer com que possamos exportar muito mais produtos, inclusive para Moçambique. A Câmara, por exemplo, tem o registo de uma empresa angolana que quer fazer uma fábrica de contadores eléctricos em Moçambique. Temos também uma empresa de construção civil que quer expandir os seus negócios em Moçambique devido aos grandes projectos de construção em curso naquele país do Índico.
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