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África

RDC "oferece" bases militares e minerais em troca de segurança

REPRESENTANTE DO GOVERNO CONGOLÊS PROPÕE AOS EUA ACORDO DE MINERAIS POR SEGURANÇA

A RDC oferece a empresas dos EUA "direitos de extracção e exportação" de minerais estratégicos e o "controlo operacional" do Porto de Águas Profundas de Banana. Oferece ainda o acesso a bases militares em zonas-chave para proteger recursos estratégicos e a substituição da missão da ONU por militares norte-americanos.

As autoridades da República Democrática do Congo (RDC) querem negociar com a Administração Trump um acordo de segurança, em troca de acesso a minerais críticos e infraestruturas, que pode passar pela implantação de bases militares dos EUA em território congolês, de acordo com uma carta enviada por um representante do governo congolês ao secretário de Estado Marco Rubio. A proposta foi confirmada pelo próprio Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, em Fevereiro, antes de o Financial Times anunciar que a Ucrânia tinha aceitado um acordo de minerais para melhorar a sua relação com a Administração Trump.

"Na sua primeira entrevista desde que um grupo armado apoiado pelo Ruanda tomou este ano grandes áreas do território do seu país, Felix Tshisekedi, o Presidente da RDC, ofereceu aos EUA e à Europa uma participação na vasta riqueza mineral do seu país, um sector actualmente dominado pela China", escreve o The New York Times, a 22 de Fevereiro, notando que Tshisekedi "parecia ansioso por capitalizar" este acordo "enquanto tenta gerir um conflito que, segundo ele, é semelhante à invasão da Ucrânia pela Rússia".

Um dia antes, a 21 de Fevereiro, o presidente da Africa-USA Business Council (AFBC), Aaron Poynton, um organismo de lobby, dirigiu uma carta ao secretário de Estado Marco Rubio, a solicitar contactos ao mais alto nível para "fazer avançar as discussões" com vista ao estabelecimento de uma "parceria estratégica".

Na carta, que está disponível no site do Departamento de Justiça, Poynton diz agir em nome do senador Pierre Kanda Kalambayi, presidente da Comissão de Defesa, Segurança e Protecção de Fronteiras da RDC. Além de uma reunião com Rubio, o lobista pede um "encontro entre o Presidente Trump e o Presidente Tshisekedi", para o "alinhamento de prioridades estratégicas e garantir o apoio necessário do Congresso para solidificar este acordo-quadro".

"Como principal economia do mundo e defensora da segurança global, os EUA estão bem posicionados para estabelecer uma parceria duradoura com a RDC, nação que possui mais de 24 biliões USD em reservas inexploradas de minerais críticos", recurso "indispensável para as indústrias de defesa, tecnologia e energia do século XXI", escreve.

Afastar da influência dominante da China

A carta, lida pelo Expansão, lembra que a RDC é "o maior fornecedor mundial de cobalto e grande produtor de lítio, cobre, tântalo e urânio", pelo que uma parceria entre os EUA e a RDC "reforçaria a estabilidade da cadeia de abastecimento" de recursos que são "essenciais para a competitividade industrial e a segurança nacional dos EUA".

Aaron Poynton recorda que, na entrevista ao The New York Times, o Presidente Tshisekedi sinalizou "um claro desejo de se afastar da influência dominante da China e reforçar os laços económicos com o Ocidente", facto que representa uma "oportunidade única para os EUA estabelecerem um fornecimento fiável e exclusivo", reforçando ao mesmo tempo a estabilidade regional.

Uma parceria de fornecimento directo com os EUA "atenuaria a dependência da refinação de terceiros e redes de distribuição, garantindo um fluxo seguro e ininterrupto de materiais críticos", através de "canais legais, transparentes e alinhados com os EUA - bloqueando caminhos que podem ser explorados por actores hostis", defende Aaron Poynton.

O presidente da AFBC lembra que a RDC é alvo, há mais de duas décadas, de uma "pilhagem sistemática de minerais de elevado valor", por grupos armados, alguns apoiados por governos estrangeiros. Como exemplo, aponta o M23, apoiado pelo Ruanda, que controla "10% do território congolês", o que levou os EUA e a UE a aplicarem sanções a membros do governo do Ruanda e a chefes militares.

Substituir Monusco por militares dos EUA

Em troca de segurança, a RDC oferece às empresas dos EUA "direitos de extracção e exportação" de minerais estratégicos e o desenvolvimento e "controlo operacional" do Porto de Águas Profundas de Banana, o primeiro porto de contentores de águas profundas do país. O acordo prevê ainda o estabelecimento de um stock conjunto de minerais estratégicos .

No campo militar, a parceria aponta para a possibilidade de os EUA formarem e equiparem as Forças Armadas Congolesas para proteger as rotas de fornecimento de minerais, o acesso dos EUA a bases militares em zonas-chave e a "substituição das operações de manutenção da paz ineficazes da ONU por uma cooperação de segurança directa entre os EUA e a RDC".

Leia o artigo integral na edição 818 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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