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África

Credit Suisse vai pagar 475 milhões de dólares, é o preço da responsabilidade pelas dívidas ocultas de Moçambique

"As obrigações do atum" ou uma rede de corrupção

Credit Suisse pagará até 475 milhões de dólares em multas às autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido para resolver acusações criminais decorrentes de uma investigação de suborno, superior a 2 mil milhões de dólares, em negócios que se destinavam a angariar dinheiro para a pesca do atum em Moçambique.

Como parte do acordo, uma divisão do banco sediado na Suíça declarou-se culpada nesta terça-feira, no tribunal federal de Brooklyn, de uma acusação de conspiração para cometer fraude bancária. Credit Suisse admitiu a confissão como parte de um acordo de acusação diferido e no qual os procuradores federais concordam em retirar a acusação daqui três anos, caso o banco honre o acordo.

A instituição financeira Suíla também entrou em acordo com a Securities and Exchange Commission e a U.K. Financial Conduct Authority, a quem pagará multas.

Os acordos resolveram uma investigação que decorria há anos e que surgiu de uma série de ofertas de títulos e de um empréstimo que se destinava a ajudar a desenvolver a indústria de pesca do atum em Moçambique.

Os investigadores concluíram que mais de 200 milhões de dólares foram desviados para pagar subornos e para enriquecer funcionários estrangeiros e antigos banqueiros do Credit Suisse, num escândalo que ficou informalmente conhecido como o caso das "obrigações do atum". Três antigos banqueiros do Credit Suisse declararam-se culpados no âmbito da investigação.

No processo provou-se que o Credit Suisse tinha enganado os investidores sobre as ofertas de títulos ao não revelar a má utilização dos fundos, e que a dívida pendente de Moçambique era muito superior ao que tinha sido declarado nos documentos.

Os procuradores federais adiantaram que as autoridades suíças vão nomear um monitor externo para supervisionar algumas das transacções e sistemas de gestão de risco do banco.

"Esta resolução coordenada demonstra o empenho deste gabinete em trabalhar além-fronteiras com os nossos parceiros globais na aplicação da lei para erradicar o abuso e a fraude por parte das instituições financeiras, a fim de proteger os investidores", disse Breon Peace, advogado para o Distrito Oriental de Nova Iorque, em Brooklyn, e citado pelo New York Times.

Tem sido um ano difícil para o Credit Suisse. O banco perdeu mais de 5 mil milhões de dólares no colapso da Archegos Capital Management, um "banco boutique" a quem o Credit Suisse tinha emprestado dinheiro, a que se acrescenta a perda com um empréstimo de 160 milhões de dólares ao Greensill Capital que entrou em colapso em Março deste ano. Vários executivos do banco foram demitidos na sequência dessas perdas.

O banco suíço conta agora com o português António Horta-Osório como presidente do conselheiro executivo, partilhando responsabilidades com o actual CEO Thomas Gottstein.