Custos dos empréstimos ameaçam África do Sul, Nigéria e Quénia
Apesar de custos de empréstimos mais baixos do que no Quénia e Nigéria, a África do Sul enfrenta dificuldades de financiamento que são uma barreira ao crescimento. Segundo a Moody"s, os três principais mercados de África viram taxas de juros crescer nos últimos 5 anos e correm risco de ficar presos numa "espiral negativa".
África do Sul está entre as três economias africanas que "enfrentam uma combinação de fragilidades estruturais", que "vão levar tempo a solucionar", e que travam o crescimento pelos "custos elevados dos empréstimos", alerta a Moody"s. Os outros dois são a Nigéria e o Quénia, economias que também viram crescer os custos de financiamento para governos e empresas nos últimos cinco anos, "devido a fragilidades políticas, condições de mercado desfavoráveis e inflação".
Qualquer uma destas economias tem "necessidades substanciais de financiamento para o desenvolvimento", mas enfrentam barreiras importantes, como "capital próprio limitado" e custos da dívida mais elevados do que as suas congéneres avançadas, refere a Moody"s, esta segunda-feira, salientando que "estruturas políticas mais eficazes apoiariam custos de financiamento da dívida mais baixos".
No caso da África do Sul, classificado como Ba2 estável, a agência de notação financeira considera que, "sem melhorias", o país "corre o risco de continuar numa espiral negativa, em que as taxas de juro elevadas, visando atrair fluxos no meio de um crescimento contido, limitam o investimento interno e prejudicam ainda mais as perspectivas económicas".
Os custos dos empréstimos, segundo a Moody"s, "são elevados em todos os sectores", embora os custos da dívida na África do Sul sejam mais baixos do que nos outros dois mercados. Já se a comparação for com economias de mercados emergentes, a África do Sul tem custos de empréstimos mais elevados, apesar de ter mercados financeiros avançados.
No caso da África do Sul, todos os sectores "beneficiam de mercados financeiros robustos e de políticas monetárias eficazes". Mas, "devido às restrições económicas e fiscais", se não houver melhorias, o país corre o risco de não sair da espiral negativa.
Segundo o Business Report, "os custos de financiamento para os bancos sul-africanos aumentaram paralelamente ao aumento da taxa repo do Sarb, que atingiu um pico de 8,25% entre Maio de 2023 e Agosto de 2024, antes de o banco central começar a cortar a sua taxa de juro directora há um ano".
Poupança limitada e grande economia informal
Os custos da dívida para os bancos, empresas não financeiras e governos soberanos "aumentaram nos três mercados, juntamente com taxas de juro mais elevadas nos últimos cinco anos, mas os bancos resistiram ao aumento reprecificando activamente os activos", refere a agência de notação. Embora os empréstimos concessionais dos parceiros de desenvolvimento ajudem a reduzir os custos da dívida em moeda estrangeira, eles "não compensaram totalmente as elevadas taxas de juro dos mercados local e externo".
Em relação à Nigéria, com uma classificação de B3 estável, as políticas, por vezes incertas, e os mercados de superfície mantêm os custos da dívida elevados, apesar da inflação moderada.
"A poupança limitada e uma grande economia informal restringem a profundidade do mercado. O acesso das empresas à dívida de mercado é altamente restrito, exacerbado pelas elevadas necessidades de financiamento soberano, que excluem o sector privado. Os bancos são essenciais para a alocação de crédito, mas por vezes enfrentam incertezas políticas", aponta a Moody"s.
A agência de notação financeira reconhece que o governo tomou medidas para melhorar o funcionamento do mercado e a inclusão financeira, mas "estes desafios demoram a ser enfrentados" e só darão frutos caso se garanta a continuidade política e relações sólidas com os parceiros de desenvolvimento.
Leia o artigo integral na edição 844 do Expansão, de Sexta-feira, dia 19 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)