A falácia sobre a defesa dos valores europeus
É, de facto, um crime insistir num confronto perdido à partida. Estão a traumatizar os ucranianos
No dia 6 de Fevereiro de 2023 assisti, com prazer, a uma brilhante Conferência sobre "AMÉRICA LATINA, CARIBE E ESTADOS NA PERSPECTIVA ACTUAL", na Academia Diplomática Venâncio de Moura (ADVM), proferida pelo embaixador cubano, reformado, Oscar Oramas Oliva, um diplomata de carreira, primeiro embaixador da República de Cuba na República Popular de Angola (1976-77), autor de várias obras sobre África e Angola, a quem rendo, particularmente, a minha homenagem.
Doutor em Ciências Históricas, Oscar Oramas é detentor de um vasto currículo no campo das Relações Internacionais e teve o privilégio de viver, partilhar experiências e testemunhar angústias inéditas, dos angolanos, ao lado do Presidente António Agostinho Neto, antes mesmo da proclamação da Independência, no dia 11 de Novembro de 1975.
Aquele evento ficará marcado para sempre nas nossas memórias pois, não só se confirmou um conjunto de factos históricos, até então oficiosos e inéditos, como tivemos, também, o privilégio de ouvir, em primeira mão, todo o manancial de iniciativas e enredos diplomáticos à volta da proclamação da nossa Independência, o apoio e a participação da República de Cuba nesse processo.
Mas, aquele encontro, no Centro de Altos Estudos Diplomáticos de Angola, serviu também para aclarar temas internacionais importantes, sobre as relações internacionais na América do Sul, Caraíbas e Estados Unidos, sobretudo, a actual situação da Guerra na Ucrânia.
Se antes a minha convicção já era a de que a Europa Ocidental, os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) estavam a levar a Ucrânia para o abismo, sai do encontro certo de que caminhamos rapidamente para um mundo multipolar, com a Europa a afundar-se, cada vez mais, atabalhoada e esfacelada, e a NATO, afinal, não tão poderosa quanto se pensava.
A forma como os EUA e a Europa Ocidental pressionam os aliados e parceiros, em todo o mundo, mostra bem as fragilidades e incapacidades de, sozinhos, resolverem a atoleiro em que se meteram. Demonstra desunião da Aliança e as evidências surgem todos os dias. O coronel Douglas McGregor, ex-assessor do chefe do Departamento de Defesa dos EUA disse, recentemente, que "A NATO entrará em colapso e a aliança simplesmente não poderá existir a menos que as conversações sobre a Ucrânia comecem rapidamente".
Um ano após, o início da guerra, não há duvidas que, afinal, a NATO é um conjunto de retalhos para intimidar países débeis, incapazes de se defenderem. Ao combater com o mundo Ocidental, no seu conjunto, a Rússia demonstra poderio militar e, sobretudo, que, de facto, a NATO é os Estados Unidos da América. A Europa é o resto, não existe como poder militar.
Ao empurrarem a Ucrânia para o genocídio colectivo com os seus incessantes apoios militares, estão a matar, principalmente, homens que morrem aos montes nas frentes de batalha. É, de facto, um crime insistir num confronto perdido à partida. Estão a traumatizar os ucranianos, a despovoar o país por causa de interesses disfarçados de "defesa da democracia". Todos conhecemos a história do passado, da NATO e aliados, onde apenas reinou a força e não o respeito pelo outro.
Hoje, assistimos à imposição da propaganda, a retórica dos media ocidentais, a falácia de que estão em jogo os chamados "Valores Europeus", as fantasias quando estão em jogo os Valores de Outros. Ergue-se um muro, instala-se a fantasia, o pensamento hegemónico, se desestabiliza, se enfraquece, se subvertem as opções e se subjugam os fracos.