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Opinião

Economia angolana: Salva pela Covid-19?

Visto do CEIC

Parece-me que todos os desejos de "feliz 2020" para a economia angolana não se concretizaram. No "pacote de felicidades" para 2020 não estavam previstas a redução épica do preço do petróleo (de 64 USD/barril em Janeiro para 18 USD em Abril), cortes na produção e a infame Covid-19, cuja "solução" (confinamento e isolamento social) tem se demonstrado mais letal do que a própria doença.

Essa combinação de choques conduziu à revisão orçamental do OGE 2020 que, por sua vez, levou consigo toda a "sacralidade da esperança" de uma economia que voltaria finalmente a crescer, de preços menos velozes, de câmbios mais previsíveis, de mais oportunidades de emprego e menos pobreza.

A única coisa que este mix de choques não conseguiu levar logo de início foi a certeza de que o excesso de dívida pública continuaria na "pole position" das prioridades orçamentais. Basta ver que nas últimas quatro propostas de OGE o pagamento do serviço da dívida representou mais de 54% do total da despesa. Como se vê no gráfico 1, a garantia do serviço da dívida tem ser feita à custa de menos verbas para o sector social e menos investimentos públicos. Portanto, associada à queda das exportações petrolíferas não admira que as perspectivas de crescimento económico sejam tão baixas e que a condição de vida dos angolanos tenha se degradado tanto nos últimos anos.

A combinação de choques aumentou ainda mais o peso da dívida, que se prevê que termine o ano em torno dos 123% do PIB muito mais em consequência da desvalorização do Kwanza e da redução do PIB.

Por mais que se queira dar a entender que em breve trecho o peso da dívida pública poderá voltar aos níveis prudenciais (à volta dos 60% do PIB), a verdade é que tudo dependerá do que irá acontecer com o preço do petróleo (o "grande imperador") com o crescimento económico, e com a taxa de câmbio. A boa notícia é que a Covid-19 não trouxe apenas más notícias.

Apesar dos efeitos serem sentidos de forma heterogénea, a crise da Covid-19 é global e todos os países reagiram com políticas públicas sem precedentes e em consequência um crescimento dos défices orçamentais poderá levar a uma crise da dívida global nos próximos anos. Entretanto, boa parte dos governos estão a implementar medidas de estímulo orçamental significativas apoiadas por políticas monetárias expansionistas de larga escala com a correcta convicção de que o que interessa neste momento é a criação de condições para que as fatalidades sejam as mínimas possíveis.

*Economista e investigador do CEIC-UCAN

(Leia o artigo integral na edição 603 do Expansão, de sexta-feira, dia 4 de Novembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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