O pensamento económico de Agostinho Neto, sua neutralidade e prenúncio de nova ordem mundial multipolar
No leque dos pressupostos, os economistas determinam que as pessoas são egoístas, agem por interesse próprio. Antes de agir, ou tomar qualquer decisão, sempre pensam em si! Pressupõe dizer que o altruísmo puro não é possível em economia. O comportamento humano é motivado pelo interesse próprio (Alfred Mill - Economia, Gente editora, 11ª edição).
O fundador da nação demonstrou um espírito de neutralidade, quando o país tinha a sua linha ideológica virada para o socialismo. Adquirimos do Ocidente aeronaves Boeing e automóveis Mercedes. Marcas que se identificam com o Ocidente. Vemos aqui um grande sentido de neutralidade. O pensamento económico de Agostinho Neto era desenvolver Angola com todos aqueles que se predispusessem a caminhar connosco.
Sobre a posição neutra escolhida por Angola, na Assembleia Geral das Nações Unidas, na votação da moção condenatória da Rússia, mais do que nos preocupar com as eventuais consequências, aproveitar as oportunidades que dela podem advir. Os formadores de opinião (opinion makers) devem ter muita atenção ao tomarem certas posições a ponto de serem conotados como participantes de uma corrente contrária à tendência de uma nação. Não se pode pensar que, por uma maioria estar a dizer sim, esteja certa.
Daí o facto de uns verem Putin como um nazista e outros como um "querubim". Ainda assim, respeito a diversidade de ideias. Os efeitos colaterais deste conflito que traz à tona as vergonhas daqueles que mostram ser defensores dos direitos universais para todos, apregoando igualdade em várias vertentes, fará com que o BRICS (agrupamento de países de mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento económico: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ressurja, e mais forte.
Atrevo-me a augurar a integração de Angola neste grupo, passando a chamar-se BRICSA (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Angola). Sugiro ao MINFIN que tenha a audácia de renegociar os termos e condições dos empréstimos, cuja garantia é o petróleo, e que, pela consequência do conflito, se tem verificado uma mais-valia, tendo em conta a subida do preço do barril de crude nos mercados internacionais.
Não podemos usufruir desta subida pelo facto de acrescerem o valor da prestação, bem como de assegurar a capacidade de produção do gás da Angola-LNG, e colocar à disposição dos europeus que pretendem diminuir a dependência desta commodity da Rússia. Sobre o Angosat-II, devemos saber da Rússia se se mantém o compromisso do seu lançamento na data prevista (aprazado até ao primeiro semestre deste ano).
Neste sentido de oportunidade, devemos olhar para as estatísticas e repensar melhor a nossa estratégia de produção interna, e disto resultar a inversão da nossa balança comercial, quando as nossas exportações com destino à Europa foram de 7% e as importações de 41% (dados referentes ao ano de 2021). Há aqui um défice, o que ajudaria no equilíbrio da balança, apostar numa oferta que crie a sua própria procura, segundo a teoria de Jean-Baptiste Say.
(Leia o artigo integral na edição 670 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Abril de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)