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Opinião

Uma economia sem pernas para andar

CONVIDADO

A maior riqueza de um país é o seu povo, muitos já ouviram esta frase, mas poucos conseguem decifrá-la. Os investidores estrangeiros não vêm a Angola por causa dos seus recursos naturais, mas pelo número de consumidores (povo) que é um bom nicho de mercado para se investir, não só pelo número de consumidores, como também pela escassez de produtos e serviços para alimentar este povo.

Se continuarmos com as metodologias de trabalho antigas, não teremos novos resultados. Se com o muito dinheiro que tivemos sem o compromisso de pagar a dívida não tivemos bons resultados, não será com pouco, e como se não bastasse com o aumento da densidade populacional, que iremos ter.

Por vezes, pensamos que o problema de Angola é a falta de dinheiro, mas não. Já se retirou a subvenção aos derivados do petróleo, fizemos fusão e extinção de alguns ministérios, cortes orçamentais e agora a retirada de regalias aos gestores públicos; o que era para melhorar, parece piorar a cada dia que passa.

Cada ano que passa contraímos dívidas para fazer as mesmas coisas. Quando ouço falar de biliões disponíveis para animar a economia, para mim é um déjà-vu, porque sabemos quem se irá beneficiar deste dinheiro, e onde ele irá parar.

É como se fosse algo institucionalizado. Assim que uma pessoa é nomeada, é como se lhe tivessem dito, chegou a tua vez de ficar rico à custa do Estado. Após passar alguns meses, a pessoa que entrou sem nada, ela e os seus familiares, amigos, amantes e pessoas da sua conveniência têm tudo e mais alguma coisa, incluindo casas no estrangeiro. Ou seja, depois de algum tempo, os gestores estão cheios de dinheiro e os cofres do Estado vazios.

Trabalhar por conveniência é chocar com o sistema capitalista. O sistema capitalista tem o seu próprio funcionamento, os algoritmos não irão alterar isso, porque trata-se de Angola. Os angolanos também são obrigados a cumprir as regras do capitalismo. Ou as regras, ou então estarão a consumir grandes quantidades de combustível que a própria máquina, por estar parada por conveniência, não produz. O problema de Angola não é e nunca será falta de dinheiro. Há quem diga que, com o dinheiro que os Angolanos tinham, e alguns deles ainda têm, dava e dá para transformar Luanda no Dubai.

No capitalismo, não se resolvem problemas fazendo cortes apenas, mas também aumentando a produção interna de bens e serviços. No capitalismo não é o grau académico ou os cargos que determinam o sucesso, mas os resultados, através da compreensão de como funcionam os algoritmos capitalistas.

O capitalismo tem as suas regras de funcionamento, se não forem cumpridas geram despesas sucessivamente. Os lobistas no capitalismo existem para abrir portas aos tecnocratas nacionais, estes, por sua vez, executam os serviços e ambos saem a ganhar por cada um dos serviços prestados, trabalhando em cadeia. Os lobistas levam o seu dinheiro para onde quiserem, com certeza não será para Angola; ao passo que o dinheiro dos tecnocratas, que acreditam no potencial deste povo, irá circular entre nós, para alavancar de forma sustentável outros projectos de jovens no qual acreditamos.

A maior riqueza de um país é o seu povo, muitos já ouviram esta frase, mas poucos conseguem decifrá-la. Os investidores estrangeiros não vêm a Angola por causa dos seus recursos naturais, mas pelo número de consumidores (povo) que é um bom nicho de mercado para se investir, não só pelo número de consumidores, como também pela escassez de produtos e serviços para alimentar este povo.

Um povo ignorado pelos endinheirados nacionais, em contrapartida, é a galinha dos ovos dourado dos investidores estrangeiros.

Os endinheirados não sabem prestar serviços ao povo, por isso não acreditam nele. Eles só sabem prestar serviços ao Estado, em que, por conveniência, num único contrato de consultoria, ou prestação de serviços, que não dá resultados tangíveis, conseguem milhões e milhões de kwanzas. Por isso, eles não acreditam que, prestando serviços ao povo, é possível ser rico ou milionário. Razão pela qual não fazem, não dão oportunidade de fazer e não deixam ninguém fazer. Os seus argumentos de razão são apenas as suas convicções

Falando sobre falta ou não falta de dinheiro para resolver alguma situação fez-me lembrar o condomínio Atlântico Sul. De todos os condomínios que eu já frequentei, este continua a ser o melhor de Angola, não só em termos de infraestruturas, mas também de espaços: estradas, área social, quintais, ruas... Neste condomínio, as casas custam acima de 1 milhão de dólares. Estando lá diversas vezes, constatei a falta de água e luz, e esta situação era recorrente. Uma das pessoas que lá vive tem condições financeiras para criar vários furos de água, transformar e tratar água para abastecer Talatona completo. O mesmo se aplica a uma solução deste nível para o problema da electricidade, mas a situação na altura continuava.

Tenho conhecimento que alguns dirigentes ainda abastecem as suas casas com cisternas de água, com o dinheiro que possuem, cada um deles pode fazer furos de água, ou mesmo transformar água salgada em doce e distribuir para Talatona inteira. Não estou a falar para nós, falo para eles que vivem lá. Se para eles próprios não fazem o investimento, mesmo tendo dinheiro, imaginem para nós?

Leia o artigo integral na edição 810 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*Tomás Alberto, Empresário na área das tecnologias digitais

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