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Opinião

Notícias do Reino

Editorial

Hoje volto a trazer-vos notícias do reino. Por lá estão na moda os fazedores de sonhos, uma equipa especializada que ganha a vida a repetir vezes sem conta que a abundância voltou, que o sol nasceu virado para eles, e que aqueles que falam em dificuldades são apenas insurgentes, opositores da prosperidade, ou no mínimo pessimistas.

Gente que não está dentro do ambiente virtual que muitos aceitam como comodismo, que prefere falar do que vê e não do que ouve. Aliás, este continua a ser um problema do reino, uma corte que acredita mais nas encenações, ou não. E que faz um permanente esforço de exaltação ao rei, alimentado por estes sonhos que os fazedores espalham pelos cronistas pagos pelo reino.

Até aqui tudo parecia estar a correr. Mas quando se estica muito a ambição, o sonho mistura-se com o disparate, e aparecem os primeiros, os que estão próximo das decisões, a questionar. E deixam de ser apenas os insurgentes e os pessimistas a perguntar onde foram buscar tal ideia, passam a ser os da corte a querer saber onde foram buscar este e aquele cenário, qual é base da informação, onde está tamanha abundância. O sistema começa a autoregular-se e os que durante muito tempo só ouviram, agora também querem ver.

Enquanto os protestos vieram de fora, os fazedores de sonhos puderam gerir porque muitos poucos têm acesso à sala do trono, mas agora os mais próximos do rei também questionam esta forma. Foram ver e parece que não é bem assim. Não se atrevem a concordar, mas parece que há fome.

Também os representantes de outros reinos parece estar de acordo, e no meio da linguagem diplomática, vão deixando alguns recados. Parece revolucionário, mas no reino está aumentar o espírito crítico. Alguns não dizem mas escrevem. Alguns que o próprio rei considera como indiscutíveis vão explicando que os fazedores de sonhos, afinal, estão a fazer mais mal que bem ao reino.

Nesta altura eles também já perceberam e diminuíram o som e cor das mensagens, precisam de segurar os seus lugares. Mas estão apenas adormecidos, porque não tendo espírito crítico, isso também obriga a ter conhecimento e a ir ver, voltam de mansinho para as poltronas dos seus escritórios. Pode ser que esteja a ser demasiado optimista, mas parece-me que está a crescer esta onda que é necessário falar verdade, olhar para os cidadãos olhos nos olhos, perceber quais são os seus problemas, para que estes possam ter solução. O primeiro passo é reconhecer. O segundo é fazer.