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Opinião

O BNA concentra-se na trajectória inflacionária errada

CONVIDADO

Como o BNA prefere julgar os comportamentos mensais da inflação com base na trajectória da taxa homóloga, o mesmo considerou sempre que o comportamento mensal da inflação não parou de ser descendente e, em função disso, continuou a diminuir as taxas de juro e o coeficiente de reservas obrigatórias, nas suas reuniões de dois em dois meses, incluindo na mais recente, de Março de 2023 (1).

Durante o primeiro semestre de 2022, a trajectória das taxas de inflação mensais caiu com muita intensidade, causando também, obviamente, uma queda muito intensa da taxa de inflação homóloga. Assim, o Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) começou em Maio do mesmo ano por desapertar ligeiramente a política monetária, com pequenas reduções do coeficiente de reservas obrigatórias e, a seguir, em Julho, voltou a desapertar a política monetária, com pequenas reduções nos instrumentos de política monetária.

Porém, em meados do ano de 2022, a queda da taxa de inflação mensal esteve a abrandar, chegando a um ponto mínimo em Agosto, de 0,76%, e passou a subir nos meses seguintes. Entretanto, a taxa de inflação homóloga não parou de cair intensamente, em 2022 e até aos dados de inflação mais recentes, de Abril de 2023.

Estando a taxa de inflação mensal a subir e a taxa de inflação homóloga a cair, o BNA optou pela fascinante taxa homóloga para caracterizar os comportamentos mensais da inflação. Por exemplo, no comunicado da 110.ª Reunião do CPM, publicado no dia 21 de Março de 2023, o CPM descreveu a situação da inflação em Angola referindo- se às taxas homólogas, nos seguintes termos:

"Quanto aos dados mais recentes da inflação no país, realçamos a manutenção da trajectória descendente que se observa desde Fevereiro de 2022".

Como o BNA prefere julgar os comportamentos mensais da inflação com base na trajectória da taxa homóloga, o mesmo considerou sempre que o comportamento mensal da inflação não parou de ser descendente e, em função disso, continuou a diminuir as taxas de juro e o coeficiente de reservas obrigatórias, nas suas reuniões de dois em dois meses, incluindo na mais recente, de Março de 2023 (1).

Assim, o BNA considerava que em Angola ainda se vivia em aura de inflação descendente e, por isso, prolongou os actos de apoio às actividades económicas, continuando a reduzir as taxas de juro.

Ora, a trajectória de taxas de inflação homólogas não deve servir de base primária para se tomarem decisões de política monetária, pois o facto de cada taxa homóloga ser uma composição de 12 taxas mensais faz a trajectória reflectir um comportamento inflacionário demasiado atrasado no tempo. A trajectória de taxas homólogas deve, sim, ser considerada para se prever a taxa anual ao fim do ano civil. Quanto mais próxima do fim do ano civil estiver a trajectória das taxas homólogas, menos incerta será a referida previsão.

A base primária para se tomarem decisões de política monetária deve sempre ser a trajectória das taxas de inflação mensais, podendo a tendência ser clarificada com médias móveis ou uma recta de regressão.

Estas questões foram explicadas num vídeo da minha autoria, publicado a 8 de Dezembro de 2022, no Linkedin, no Facebook e no Youtube, e no artigo da minha autoria, intitulado "A inflação já não está em queda", publicado na edição de 10 de Fevereiro de 2023 do jornal Expansão.

Na série de taxas mensais, cada dado é apenas uma percentagem simples, que é do mês relativo, ao passo que, na série de taxas homólogas, cada dado é uma percentagem composta, agregando 12 percentagens simples: a do mês relativo e as dos 11 meses anteriores, o que torna matematicamente a série de taxas homólogas numa estrutura de desfasamento retardado em relação à série de taxas mensais, como se pode notar facilmente no gráfico que acompanha o presente artigo.

Em consciência desta lógica, tendo a taxa de inflação mensal parado de cair em Agosto de 2022 e começado a subir no mês seguinte, era muitíssimo provável que a taxa homóloga, variável retardada, viesse a apresentar uma trajectória muito semelhante alguns meses depois. Por esta relação matemática, é claro que o BNA devia ter-se concentrado na trajectória das taxas mensais, o que provavelmente o teria feito, desde Setembro de 2022, parar de reduzir as taxas de juro.

(Leia o artigo integral na edição 725 do Expansão, desta sexta-feira, dia 19 de Maio de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)