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Opinião

Ter "potencial" não vai transformar Angola num destino turístico

MILAGRE OU MIRAGEM?

Recentemente teve lugar, na cidade do Lubango, a 7ª edição da Bolsa Internacional do Turismo. Apesar de bastante promissor, tendo em conta as várias iniciativas do Executivo, o sector do turismo em Angola contribui com menos de 1% do PIB. Angola tem um enorme potencial turístico e ninguém pode negar este facto. Porém, potencial é algo que outros países em África e não só também têm e, ao contrário de Angola, estes têm sabido tirar o máximo de proveito.

A história do desenvolvimento económico capaz de culminar com a transformação da estrutura da economia de um dado país mostra que o sector dos serviços, quando emerge fruto das interligações sectoriais que um rápido processo de industrialização cria, é muito mais sustentável do que aquele que possa surgir na ausência desta base industrial. Até antes da pandemia da Covid-19, grande parte dos especialistas em questões ligadas à transformação estrutural das economias acreditava que o sector dos serviços, do qual se insere o turismo, iria tornar desnecessária a transformação das economias dos países em desenvolvimento via industrialização cf. Goswami et al (2011), tal como ocorreu no ocidente e na Ásia. De facto, Goswami e colegas mostram dados empíricos bastantes contundentes, por ex., os serviços representavam, em 2010, 75% da economia mundial e 45% da economia dos países em desenvolvimento. Em 2008 os países em desenvolvimento foram responsáveis por 21% das exportações de serviços a nível mundial. Apesar de importante e necessário este desenvolvimento, particularmente para a criação de empregos no sector formal da economia, foi difícil para a economia mundial manter este desempenho durante a pandemia da Covid-19.

Os últimos dados apresentados pelo Expansão mostram que o turismo em Angola contribuiu 0,01% do PIB em 2022 (vs 1,3% em 2015), que o número de entradas de turistas tem vindo a reduzir desde 2013 (quando foram registadas 650 mil entradas) e que a taxa de ocupação hoteleira, apenas em Luanda, está a baixo dos 50%. Este facto deve merecer uma atenção especial por parte da governação, por ex., encorajando os operadores a promoverem os seus estabelecimentos para a atracção de turistas internos. Abrimos aqui um parêntesis para ilustrar uma prática que verificamos em Benguela e que de certa forma não promove o turismo interno. Naquela província, é prática as unidades hoteleiras aumentarem os preços (quase que o dobro) sempre que há um final de semana prolongado.

O fraco desempenho do turismo em Angola não parece desencorajar o Executivo, pelo contrário, temos visto o discurso político a priorizar uma aposta neste sector sem que o país disponha de infraestruturas capazes de proporcionarem ao turista (nacional e/ou internacional) a melhor experiência possível. Existem países em África onde o sector do turismo tem um peso enorme, por ex., em Cabo Verde o peso é de 25% do PIB, Seychelles 22% e Ilhas Maurícias 24%. Um país que no continente não dispõe de grandes infraestruturas, mas, ainda assim o turismo tem um peso de cerca de 20% do seu PIB é a Gâmbia. Apesar de ser um pequeno país com um PIB per capita de 808 dólares, mais pobre que Angola, criou clusters, como o de Kotu e Senegâmbia, para promover o turismo de sol e mar. Nestes lugares foram construídos, por investidores nacionais e estrangeiros, vários hotéis e resorts onde o turista tem acesso regular a utilidades como água e energia eléctrica, saneamento e segurança (o acesso a essas regiões é restrito). Na Gâmbia, a população local parece consciente da importância do turismo e dos turistas para a economia local, daí que assegurar que o País tenha uma reputação de lugar bom para se visitar acaba por ser uma responsabilidade colectiva e não apenas do governo. Aquando da nossa visita notamos que o custo da alimentação neste país, particularmente no que toca aos frutos do mar, era consideravelmente baixo.

Hoje, apesar de Angola ter isentado cidadãos de 98 países da necessidade do visto de turismo e ter uma moeda (Kwanza) depreciada, face às principais moedas (como o dólar e Euro), ainda assim, devido a outros factores, como debilidade das infraestruturas, insegurança pública em alguns espaços, não será fácil atrair um grande número de turistas. Em muitos espaços turísticos de Angola, por ex.; na foz do rio Chiloango, na Fenda da Tundavala, o turista não tem nenhum incentivo para lá estar que não seja visitar esta mesma atracção. Por outras palavras quem vai à Fenda da Tundavala nada mais faz do que ver a Fenda. Acreditamos ser importante desenvolver serviços naqueles espaços susceptíveis de atraírem a atenção dos turistas.

Leia o artigo integral na edição 776 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Maio de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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