Angola é dos maiores em banana, mandioca e batata doce, mas quase não exporta
A Costa Rica exportou 2.365 milhões USD, em 2023, apenas com banana e abacaxi. No mesmo ano, os Países Baixos foram os líderes mundiais na exportação de batata doce e não produzem um único hectare deste produto.
Aos três referidos produtos - banana, mandioca e batata doce - é possível ainda acrescentar o abacaxi, onde Angola ocupava, em 2023, o 12.º lugar do ranking mundial de produção, com cerca de 800 mil toneladas registadas naquele período, tendo a exportação de 48 toneladas rendido pouco mais de 40 mil USD. O mesmo se verifica na banana, onde Angola era o oitavo maior produtor do mundo, com 4,9 milhões de toneladas, sendo que apenas 12 mil foram destinadas à exportação, que renderam um total de 7 milhões USD em 2023, segundo os dados publicados pela Administração Geral Tributária (AGT).
A batata doce é um caso ainda mais flagrante: Angola era, em 2023, o quinto maior produtor mundial, com cerca de 2 milhões de toneladas, mas apenas exportou 1.099 USD naquele período. Todos os números de produção obtidos pelo Expansão têm como referência a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), que ainda não actualizou a sua base de dados com os indicadores de 2024.
Em 2023, o líder destacado do ranking mundial de produção de batata doce foi a China, com 51,6 milhões de toneladas, seguido de três países africanos, Maláui (cerca de 8 milhões de toneladas), Tanzânia (4,5 milhões de toneladas) e Nigéria, que produziu 4,1 milhões de toneladas daquele produto.
Do lado dos principais exportadores mundiais, a lista é encabeçada pelos Países Baixos, que facturaram 173 milhões USD com a venda de batata doce para outros países. O mais curioso é que os Países Baixos não são produtores de batata doce, fazendo valer a sua tradição de centro comercial e plataforma logística internacional conquistada à sombra da colonização, da localização estratégica, do controlo das rotas comerciais e da especial apetência que aquele país foi criando para o comércio.
Na segunda e terceira posição do ranking dos maiores exportadores de batata doce surgem os EUA (171 milhões USD em 2023) e o Egipto (127 milhões USD). Nenhum destes países aparecia no top-10 dos maiores produtores mundiais de batata doce em 2023.
No caso da mandioca, que é muito consumida no País, Angola era, em 2023, o oitavo maior produtor do mundo, com 11,2 milhões de toneladas - mas apenas 700 mil USD obtidos via exportação. A Tailândia, por exemplo, liderava o ranking de exportadores mundiais de mandioca, com 1.489 milhões USD de receitas, ao mesmo tempo que ocupava o terceiro lugar dos maiores produtores (30,6 milhões de toneladas), logo após a líder Nigéria (62,7 milhões de toneladas) e República Democrática do Congo (45,2 milhões de toneladas).
"Apesar da sua popularidade nacional, a mandioca tem ainda muito espaço de crescimento em Angola, tanto em produtividade como em variedade. Se usarmos o critério produtividade, Angola desce para a 18ª posição, num total de 40 países, no ranking continental", defende Wanderley Ribeiro, presidente da Associação Agro Pecuária de Angola (AAPA).
"Além da baixa tecnologia envolvida na produção, o País não dispõe de um profundo trabalho e escala no domínio da melhoria genética ou utilização de variedades melhoradas. A mandioca é um produto que pode ser utilizado para produção de muitos outros sub-produtos de valor agregado (amido, farinha, álcool combustível) e esta é uma oportunidade que ainda não conseguimos capitalizar", explica Wanderley Ribeiro.
Em relação à banana, que é normalmente referida como das poucas culturas em que Angola é auto- -suficiente (juntamente com a batata doce e algumas frutas, como o abacaxi), o líder em termos de exportações era o Equador, que facturou 3.790 milhões USD com a venda de banana. Em segundo lugar estavam as Filipinas (1.220 milhões USD) e em terceiro a Costa Rica (1.189 milhões USD).
Aliás, a Costa Rica, só em banana e abacaxi (onde arrecadou 1.176 milhões USD), obteve 2.365 milhões USD com exportações em apenas um ano (2023), o que sinaliza as oportunidades que existem para incrementar a integração dos produtos locais angolanos no comércio regional e global.