Angola fica com 947 milhões USD de Direitos Especiais de Saque que o FMI vai distribuir
"A maior da história do Fundo" e uma "oportunidade única" escreveu Kristalina Georgieva, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), em artigo de opinião no Financial Times. Afeganistão fica por agora de fora. Os países do continente africano têm desafios específicos. Angola recebe cerca de 850 milhões de dólares de SDRs.
"Esta injecção de novos activos da reserva internacional é um marco na nossa capacidade colectiva de combater uma crise em precendentes", escreve Kristalina Georgieva, para acrescentar que numa altura em que o mundo se confronta com a pandemia da Covid-19, o FMI pretende dar liquidez adicional à economia global de forma a aumentar a confiança e assegurar a resiliência.
Os Direitos Especiais de Saque (Special Drawing Rights), e por isso mais conhecidos pelo acrónimo inglês SDRs, são uma boa ajuda para os países com baixas reservas ou dívidas externas muito elevadas.
Mas não há almoços grátis - e os que proporcionam o Fundo não o são -, os Estados vão ser pressionados no sentido de darem mais atenção aos gastos sociais, investir na recuperação económica e terem em atenção às questões climáticas. Devem ser usados com responsabilidade e transparência, pede a directora-geral do FMI.
Do "bolo" de 650 mil milhões, distribuídos de forma proporcional de acordo com as quotas de cada país, 275 mil milhões vão para os países emergentes ou em desenvolvimento. Os países mais pobres vão receber 21 mil milhões de dólares em SDRs - o equivalente a mais de 65% do PIB em alguns casos.
"Combinado com doações e outros apoios essenciais da comunidade internacional, isso ajudará a atingir a meta de vacinar pelo menos 40% da população em todos os países até ao final de 2021 e pelo menos 60% até ao primeiro semestre de 2022", adiantou ainda Kristalina Georgieva.
As alocações dos SDRs são fiscalizadas pelo Fundo nos próximos dois anos. Há já uma cedência de 24 mil milhões dos países mais ricos aos mais vulneráveis e o FMI pode criar um novo Fundo de Resiliência e Sustentabilidade, ou canalizar apoios através dos bancos de desenvolvimento regionais.
Esta injecção de 650 mil milhões, que se inicia hoje, 23 de Agosto, é mais do dobro do número total de SDRs alguma vez emitidos pelo FMI e equivale a 5% do total das reservas globais.
Os países africanos devem receber 33,6 mil milhões, a maior parte vai para as cinco maiores economias do Continente - África do Sul, Nigéria, Argélia, Marrocos e Egipto. No entanto, muitos concordam que é insuficiente e fala-se da possibilidade de este valor passar para os 100 mil milhões.
Angola recebe cerca de 947 milhões de dólares de SDRs
Muitos analistas consideram que este é o momento para os países africanos tenham outro tipo de compromissos com o FMI. É um tempo para fazer reformas e responder de facto às necessidades das populações africanas.
Ao contrário do que aconteceu na crise 1982 na América Latina, hoje o papel do FMI foi substituído, em parte, pelos bancos centrais, que injectaram rapidamente dinheiro nas economias e funcionaram como almofadas da banca comercial e outras instituições financeiras. Até agora a resposta do FMI tem sido fraca. Até Junho deste ano, proporcionaram 115 mil milhões a 85 países e em alívio de dívida deram a 29 países de baixa renda 726,75 milhões USD.
Também por isso, a emissão de SDRs é uma oportunidade do FMI recuperar algum protagonismo na economia global.
O valor que cabia ao Afeganistão, de cerca de 400 milhões de dólares, está, por agora, em suspenso.