Diamantíferas angolanas preparam-se para um cenário difícil
O efeito Trump está a mexer com a economia mundial e os diamantes não são excepção. Com os preços em queda e o aumento das incertezas, Angola espera dias difíceis.
Apesar das dificuldades de aceder ao mercado internacional já anunciadas pela Endiama, com a realidade das tarifas aduaneiras sobre as exportações para o mercado norte-americano para quase 100 países, com o ambiente de recessão que começa estender-se em todo o mundo, a diamantífera angolana ainda mantém os objectivos de arrecadar uma receita bruta de mais de 2 mil milhões USD em 2025 com a venda ao exterior de diamantes.
Especialistas garantem, no entanto, que o cenário actual exige prudência e coragem, e será expectável que a Endiama avance com a revisão destas metas e previsões para este ano devido às mudanças no comércio internacional, com particular relevância nos diamantes, gerada pelo efeito Trump.
Acredita-se que Angola, com o crescimento actual e as perspectivas animadoras com a entrada em operações de novos projectos torna-se num País exposto a essa nova realidade que veio mudar a geografia do mercado global.
Se no ano passado a produção de diamantes foi pouco mais de 14 milhões de quilates, para este ano a diamantífera prevê atingir pela primeira vez mais de 15 milhões de pedras preciosas, um desejo que pode não ser realizado, atendendo às novas condições de mercado e à possibilidade de a produção da Catoca baixar devido ao momento de incerteza que está a passar.
Em 2024, Angola arrecadou cerca de 1,4 mil milhões USD em receitas brutas e o Estado encaixou, com os direitos mineiros e o imposto industrial, cerca de 425 milhões USD. A extracção de diamantes cresceu em Angola, mas registou-se uma queda de 5,1% nas receitas, comparativamente ao período homólogo, quando a produção fixou-se nos 9,5 milhões de quilates e uma arrecadação de 1,5 mil milhões USD. Os preços por quilate continuam a cair, pelo que mesmo que a produção aumente, as vendas brutas podem diminuir.
O cenário difícil no mercado internacional de diamantes que se vive há três anos, anunciado pela Endiama em Janeiro deste ano, consolidou-se com a imposição das tarifas aduaneiras pelo presidente Trump, muitas delas apenas entraram em vigor no início deste mês.
Na altura, preocupado com a produção angolana e das empresas que operam no subsector dos diamantes no País, o presidente do conselho de administração da Endiama, Ganga Júnior, descreveu o quadro como negativo e destacou que, com o impacto das tarifas a situação das empresas iria piorar e as receitas estariam em baixa.
Já se prevê que a situação, ou seja, o momento actual para o comércio internacional, só se pode comparar à turbulência causada pela pandemia da Covid-19, em 2020. Exportadores angolanos garantem que as tarifas de 27% impostas aos diamantes indianos, que são exportados principalmente para os Estados Unidos, estão a gerar desconfiança no sector. Por serem o segundo maior importador de diamantes, os Estados Unidos podem abanar profundamente as vendas dos países produtores de diamantes como Angola.