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Angola

Falta de vontade política de líderes para resolver problemas é grande desafio de presidência angolana

CONFLITOS INTRAESTATAIS DEVERÃO SER A PRIORIDADE DO MANDATO ROTATIVO, DEFENDEM ESPECIALISTAS

Além de múltiplas guerras, o início da segunda Administração Trump introduziu complexidade à presidência angolana da UA, pela agenda e imprevisibilidade do Presidente dos EUA. Mas a principal dificuldade é o próprio continente africano, pela "falta de vontade política para resolver os grandes problemas" de África. Angola assume hoje a presidência rotativa da União Africana.

Os conflitos intraestatais deverão ser a principal prioridade do mandato de Angola à frente da União Africana (UA), que tem início sábado, na 38ª Cimeira de Chefes de Estado, e, neste aspecto, o Presidente João Lourenço deve avaliar o "papel e importância que uma aliança militar entre a África do Sul, Angola, Burundi e a República Democrática do Congo (RDC) pode desempenhar numa perspectiva de estabilização da região", defende o especialista em Relações Internacionais, Luís Domingos.

Um ano de mandato não permite muito e, com pouco tempo e espaço de manobra, o conflito na RDC deverá estar no topo das prioridades, ao lado da guerra no Sudão, que alimenta a maior crise humanitária do mundo, com 12 milhões de deslocados e mais de metade dos seus 48 milhões de habitantes a enfrentarem insegurança alimentar aguda.

Angola assume, pela primeira vez, a presidência rotativa da UA, precisamente no ano em que o país comemora os 50 anos da independência, num contexto particularmente difícil, quer continental, quer global. Além de múltiplas guerras, o início da segunda Administração Trump veio introduzir complexidade à liderança angolana, pela agenda e imprevisibilidade do Presidente norte- -americano, embora Luís Domingos considere que a principal dificuldade que Angola vai enfrentar durante o seu mandato rotativo é o próprio continente africano.

"Tenho a sensação que as lideranças africanas não sabem o que é África, onde está, para onde ir e porque é que o continente continua inerte e não avança", refere o especialista em Relações Internacionais. Para Luís Domingos, "não importa definir uma agenda" se os líderes africanos continuarem a revelar uma certa e incómoda falta de vontade política para resolver os grandes problemas do continente".

Deixar de mendigar e de pilhar o erário

Além disso, os "Estados membros não pagam as suas contribuições, esperando, com a mão aberta, as esmolas e humilhações que chegam das metrópoles que colonizaram" o continente. "Isso precisa mudar, é hora de dizer basta", defende Domingos. E dizer basta "significa deixar de pilhar o erário e depositá-los nos bancos europeus e paraísos fiscais, prejudicando milhões e milhões de africanos, e corrigir outras distorções que empobrecem o continente", defende.

Mário Gerson concorda que Angola não terá um mandato fácil. O especialista em Relações Internacionais diz que "o continente apresenta zonas altamente cinzentas, como é o caso do conflito no leste da RDC", cuja complexidade aumentou com a violação integral do cessar-fogo e a tomada da cidade de Goma por parte do M23, grupo apoiado pelo Ruanda. Essa será uma questão central da presidência angolana, apesar de João Lourenço ter afirmado, em Dezembro de 2024, que elegeu a situação no Sudão para o "topo das prioridades" da sua agenda.

Na altura, o M23 ainda não tinha avançado sobre Goma, causando uma nova vaga de violência e de refugiados, o que faz com que este conflito, que "desestabiliza toda a região rica em mineiros", como afirmou o Presidente Lourenço em Dezembro, deva passar a subir na lista de prioridades da presidência angolana.

Quando a diplomacia falha

Encontrar uma solução para a guerra no leste da RDC "mudaria muito a imagem de fragilidade que rotula hoje Angola e o próprio PR João Lourenço enquanto mediador deste conflito que leva mais de três décadas (1994- -2025)", defende Luís Domingos.

A situação militar actual, segundo o especialista, "mostra que a diplomacia fracassou e o recurso às forças armadas pode ser uma única e última solução, tal como no passado quando Angola, África do Sul e o Zimbábue estabeleceram uma aliança militar para combater a violência naquele país". A não ser que João Lourenço, à frente da UA, "consiga convencer sobretudo o Presidente Trump e a comunidade internacional a reconhecerem a gravidade desta guerra para o sistema internacional e deixarem de agir na hipocrisia" e pressionarem, de facto, o presidente Kagame", um "aliado dos americanos e da União Europeia, que por sinal são os principais interessados e compradores dos recursos naturais que o M-23 explora para financiar a guerra".

Leia o artigo integral na edição 813 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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