Plástico: de lixo partido se faz dinheiro e utensílios domésticos
É cada vez mais frequente ver pessoas nos contentores de lixo em busca de material partido ou com defeito, como bacias, baldes e cadeiras de plástico, que depois revendem a dezenas de empresas que transformam esse lixo em utensílios de casa.
Esta é a realidade de Ermelinda Tavares, que faz da recolha de resíduos plásticos a sua única fonte de rendimento há quase dois anos, altura em que ficou desempregada. Segundo Ermelinda, de 31 anos, o único critério para a actividade que desenvolve é encontrar grandes quantidades de plástico, ainda que partido. Quanto mais recolhe, mais a balança pesa e mais dinheiro leva para casa.
"Quanto mais, melhor, porque o posto de entrega também recebe o material assim partido", resume. A jovem divide a recolha com um irmão e a mãe. Usam um megafone para alertar os moradores do bairro Palanca. Quando chegam anunciam que estão a comprar plástico danificado.
"As bacias grandes e as cadeiras pagamos a 100 Kz, as coisas pequenas são 50 Kz", revelou. O objectivo é recolher até 50 quilos de produto, por semana, para facturar 7.500 Kz com a venda do material no posto de entrega.
Como Ermelinda existem outras pessoas. Amélia Mfuma, de 38 anos, mãe de três rapazes e moradora do bairro Nelito Soares, contou que foram as dificuldades da vida, decorrentes também do desemprego, que a jogaram para o "lixo". É é daí que provém o sustento da família.
"Esta é a forma digna que encontrei para sobreviver", contou Amélia que, a exemplo de Ermelinda, se esforça para conseguir a maior quantidade de material possível, para ganhar um valor que dê para as despesas.
"Tento conseguir de 30 a 50 quilos por semana", revela. Com isso, consegue facturar 7.500 Kz, uma vez que vende o quilo a 150 Kz.
Além da renda que consegue com esta actividade, Amélia considera que está a contribuir para tirar o lixo da cidade.
"Ajudamos, sim, a manter a cidade mais limpa", sublinha.
Não são apenas as mulheres que vivem da recolha de resíduos de plásticos. Eduardo Nunes percorre vários bairros com a sua motorizada de três rodas em busca de plástico no lixo e, às vezes, em residências. "Não podemos cruzar os braços e morrer de fome", alertou. O jovem, de 25 anos, disse que já foi estigmatizado por familiares e amigos por andar a recolher plástico.
"O importante é ter uma ocupação", disse. E além disso poder viver dela. Com as rondas da sua motorizada, consegue recolher até 20 quilos de material por dia, quando visita bairros novos.
Por isso, procura "sempre zonas novas".
(Leia o artigo integral na edição 609 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Janeiro de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)