"Em 50 anos, o mercado musical já devia ter uma indústria organizada"
Com 10 anos de estrada, o músico considera que o mercado musical angolano está em movimento, mas precisa de mais estrutura e apoio. Quanto ao estilo que canta, Nel destaca que tem mais palco e interesse, mas falta maior divulgação nos medias e a sua inserção nas escolas de música.
A 30 de Abril comemorou-se o Dia internacional do Jazz. Que actividades estão a ser desenvolvidas para comemorar a data?
Estão a ser organizados concertos em espaços culturais da cidade, workshops com músicos experientes, e sessões de partilha sobre a história do jazz em Angola. Também teremos jam session com jovens talentos.
Qual é o espaço do jazz em Angola?
O jazz em Angola tem um espaço ainda em crescimento, mas já existe um público fiel e eventos regulares que mantêm o estilo vivo. A sua presença é maior em ambientes culturais, hotéis e festivais específicos.
Quais são as origens do jazz em Angola?
As origens do jazz em Angola estão ligadas às influências musicais vindas do exterior, principalmente dos EUA e da Europa. Mas, ao longo do tempo, os músicos angolanos foram integrando elementos da música tradicional, criando uma linguagem própria.
Como e quando sentiu a paixão pela música jazz?
Senti a paixão pelo jazz ainda jovem, quando ouvi pela primeira vez discos antigos que misturavam improviso e emoção. Foi aí que percebi que o jazz me permitia expressar-me com liberdade.
Que avaliação faz desse estilo musical no mercado nacional? E da música no geral, que análise faz?
O jazz tem crescido, mas ainda enfrenta desafios, como a pouca divulgação e espaços limitados para apresentações. No geral, o mercado musical angolano está em movimento, mas precisa de mais estrutura e apoio para todos os estilos.
Em 50 anos de Independência que passos o mercado musical nacional já deveria ter dado que ainda não deu?
Em 50 anos de Independência, o mercado musical já deveria ter uma indústria organizada, com direitos autorais respeitados, ensino formal da música acessível, e circuitos de espectáculos profissionais bem estabelecidos.
O País festejou este mês 23 anos de paz. De que maneira é que a música e as artes contribuem para a paz e o diálogo entre as pessoas?
A música e as artes promovem a paz porque unem pessoas de diferentes origens e promovem o diálogo através da sensibilidade e da expressão. São linguagens universais que curam e educam.
E que papel podem desempenhar os artistas?
Os artistas devem ser agentes de transformação social. Através das suas obras, podem inspirar mudanças, provocar reflexões e incentivar valores como respeito, tolerância e solidariedade.
Para muitos, o jazz é uma música elitista. Concorda?
Não concordo totalmente. O jazz pode parecer elitista por causa da sua complexidade, mas, quando é bem apresentado, qualquer pessoa pode sentir e apreciar. O importante é criar pontes com o público.
Hoje os angolanos apreciam mais e melhor do que há uns anos?
Sim, hoje há mais abertura e interesse. Plataformas digitais e eventos culturais têm aproximado o público do jazz e de outros estilos não comerciais.
O que falta para que os angolanos apreciem o jazz como um estilo que é seu?
Falta mais divulgação nas rádios e televisões, introdução do jazz nas escolas de música e um trabalho mais consistente de aproximação com as comunidades.
Que casamento encontra entre a música tradicional angolana e o jazz?
O casamento entre a música tradicional angolana e o jazz é muito rico. Ritmos como semba, kilapanga e kazukuta oferecem possibilidades infinitas de fusão com o jazz, criando novas identidades sonoras.
Como olha para a nova geração de jazz e a sua interacção com os mais velhos?
A nova geração está mais curiosa, aberta a aprender e cheia de talentos. É importante haver mais encontros entre gerações, para que a experiência dos mais velhos não se perca.
Já teve a oportunidade de cantar em algumas casas de jazz do País. Há algum sítio onde ambicione fazê-lo e ainda não teve oportunidade?
Já tive o privilégio de cantar em algumas casas emblemáticas, mas sonho ainda fazer uma apresentação especial no Cine Atlântico, que é um símbolo cultural da cidade.
Com que músico gostaria de partilhar o palco?
Gostaria muito de partilhar o palco com Lokua Kanza. A sua musicalidade e sensibilidade são uma grande inspiração.
Leia o artigo integral na edição 824 do Expansão, de sexta-feira, dia 02 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)