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Angola

BNA quer bancos a remunerar melhor os depósitos a prazo

Banco central aposta na poupança para combater a inflação

O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou aos bancos comerciais para subirem as taxas de juro dos depósitos dos seus clientes para estimular a poupança, uma semana depois de ter apertado a política monetária a pedido do FMI, ao aumentar a taxa básica de juro de 15,50% para 20,00%.

Agora, o banco central diz que o ajustamento das taxas de juro dos depósitos deverá ser proporcional ao aumento da taxa de referência e recomenda também o desenvolvimento de produtos que possam contribuir para estimular a poupança, e assim prolongar a maturidade dos recursos nos seus balanços.

O objectivo de aumentar a poupança dos angolanos vem de encontro à missão que o BNA tem para os próximos tempos e que visa, essencialmente, fazer baixar a alta inflação que em Luanda atingiu 28% em Junho.

Para os especialistas, a questão que se coloca com esta indicação do banco central é: quem é que tem dinheiro para poupar num país em que mais de 80% dos empregos são informais e em que o custo de vida subiu abruptamente nos últimos anos num cenário de cinco recessões consecutivas, fazendo com que cerca de 60% dos gastos das famílias seja precisamente para a alimentação. Acresce que tradicionalmente os angolanos desconfiam dos bancos e optam por fazer poupanças em moeda estrangeira, guardando nas suas casas.

O economista António Estote considera que "face à perda do poder de compra sobretudo desde Outubro de 2019, devido à desvalorização do Kwanza, as famílias têm muito pouco, ou quase nada, para poupar".

"Mesmo subindo as taxas de juro dos depósitos estes continuam a não ser atractivos pois a inflação é mais elevada. Neste contexto de fraca oferta é uma missão impossível baixar a inflação", admite.

Estote considera que é fundamental baixar a inflação até para atenuar as tensões sociais. Desta forma, com o aproximar das eleições presidenciais, admite que é expectável que o Executivo acelere a oferta de divisas nos mercados, talvez usando as Reservas Internacionais Líquidas, para permitir um aumento das importações para fazer baixar os preços.

Angolanos desconfiam dos bancos e poupam em casa

Os próprios bancos acabam por não oferecer grandes remunerações a depósitos, como se pode verificar nos relatórios do banco central. Em Maio, um depósito a prazo a mais de um ano tinha uma taxa de juro média de 9,12% na banca nacional, o que compara, por exemplo, com o que os bancos cobram por empréstimos com a mesma maturidade, 19,96%.

Para os especialistas, esta recomendação não deverá ter grandes efeitos já que além de os angolanos não terem actualmente condições para fazer poupança, os próprios bancos também não querem ver as suas rentabilidades afectadas por aumentarem as taxas de juro dos depósitos.

(Leia o artigo integral na edição 633 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Julho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)