Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Angola

Medidas de fomento vão no sentido correcto mas aparecem fora de tempo

GOVERNO AVANÇA COM 153 MIL MILHÕES KZ PARA CAMPANHA AGRÍCOLA 2023-2024

Os especialistas ouvidos pelo Expansão consideram que a experiência adquirida na campanha agrícola 2023-2024 deve servir de base de concertação e coordenação atempada nos próximos anos. E esperam que o Governo avance com a definição de preços mínimos e a redução dos custos dos fertilizantes.

Depois de uma tentativa falhada há mais de uma década, o Governo volta a disponibilizar medidas de apoio, avaliadas em 153 mil milhões Kz, ao sector da agro-pecuária no início da campanha agrícola. Oficialmente, o ano agrícola começa em Outubro, mas a principal época de plantação e preparação das terras acontece durante o mês de Setembro, o que significa que o impacto destas iniciativas será limitado em 2023-2024.

"As medidas são boas, claro que são boas, mas pecam por serem tardias. Este desfasamento é algo que não se verifica apenas em 2023, é um problema que vem desde a independência: só se apoia a agricultura quando o País está em dificuldades", defende Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo, que acredita que os apoios não vão "ter nenhum impacto em culturas como o arroz e o milho, por exemplo".

No total, para a próxima campanha agrícola foram emitidas garantias públicas no montante de 43 mil milhões Kz, com maturidade de 12 meses e taxa de juros de 7% ao ano, com financiamento do Banco Angolano de Investimentos (BAI). Quatro instituições financeiras públicas foram capitalizadas, nomeadamente o Fundo de Garantia de Crédito (FGC), com 50 mil milhões Kz, o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), com 20 mil milhões Kz, o Fundo Angolano de Capital de Risco (FACRA) e o Fundo de Apoio de Desenvolvimento Agrário (FADA) ambos com 5,5 mil milhões Kz.

Foi também realizada uma dotação orçamental de 30 mil milhões Kz para o Ministério da Agricultura e Florestas para aquisição de insumos agrícolas de apoio à agricultura familiar.

"A preparação da campanha agrícola e dos apoios disponíveis deve começar um ano antes. Se o Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2024 está a ser preparado agora, também a campanha agrícola deve ser tratada dessa forma", acredita Fernando Pacheco. Segundo o engenheiro agrónomo, o pacote de fomento da produção agrícola e animal é resultado da acção positiva da Associação Agro-Pecuária de Angola (AAPA) e das propostas que foram apresentando e negociando com o Governo.

Dois meses de negociações

O presidente da AAPA, Wanderley Ribeiro, disse ao Expansão que "no contexto actual da economia angolana são necessárias medidas disruptivas e objectivas", apesar de admitir a pressão relacionada com o início da campanha agrícola.

"É a primeira vez que Angola tem um crédito de campanha e com condições especiais de juros. É verdade que as medidas pecam pelo atraso porque a campanha agrícola já começou. Entretanto, compreendemos também que foi necessário uma engenharia financeira para tornar este instrumento possível", explica o líder associativo, para depois descrever o que foi concretizado nos últimos meses de negociações.

"A AAPA esteve a interagir com o Governo ao longo dos últimos dois meses e a intenção esteve sempre clara: adoptar um mecanismo de reforço da segurança alimentar. Esta é, inclusivamente, a coluna vertebral do crédito de campanha e a palavra de ordem do Governo no domínio da agricultura. É uma nova abordagem, justa e necessária", defende Wanderley Ribeiro.

Outras acções importantes, que devem acontecer com a maior brevidade possível, segundo os especialistas, passam pela definição de preços mínimos de referência para as principais culturas do País e a intervenção do Governo na redução dos custos dos fertilizantes, naquela que será uma forma indirecta de subsidiar a actividade agrícola, como fazem as grandes potências agropecuárias internacionais. "São medidas com impacto imediato na próxima campanha agrícola", acredita o líder da AAPA.

De acordo com a AAPA, estima-se que existam cerca de 55.000 toneladas de fertilizantes entre os principais operadores do País e os 30 mil milhões Kz entregues ao Ministério da Agricultura e florestas visam reforçar os stocks de materiais de trabalho e de fertilizantes.

"Nos próximos dois meses deve chegar algum reforço de fertilizantes, mas já não terá o mesmo impacto", sublinha Wanderley Ribeiro. Enquanto isso, o stock existente vai ser disputado entre as empresas e a agricultura familiar, numa tendência de inflação de preços.

"O Governo deve agora converter o crédito de campanha num instrumento de política agrícola anual e assegurar que os recursos são disponibilizados nos prazos seguros para garantir que as próximas campanhas aconteçam dentro de um espírito de planificação e coordenação. Os recursos devem estar disponíveis entre Junho e Julho e deve ainda existir uma articulação especial com os importadores de insumos. Este exercício de planificação deve começar no início do ano, portanto, é chegada a hora do Governo entender os tempos da agricultura, porque no campo o tempo manda no dinheiro", frisa Ribeiro, que defende ser compreensível que ainda "existam algumas insuficiências".

Leia o artigo integral na edição 740 do Expansão, de sexta-feira, dia 01 de Setembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo