"Não temos muitas iniciativas que apoiem a arte, além da música"
Há sete anos que se propôs olhar o mundo através das lentes de uma máquina. Ao Expansão, o jovem que deu o primeiro passo como curador aponta vários aspectos do mercado nacional, desde a escassez de galerias como a falta de cultura do angolano em apreciar arte. Menciona ainda que investir em arte é também investir no país.
Estreou-se como curador com a exposição "Luanda Photo Walk". Como surge este projecto?
Sim, com a exposição "Luanda Photo Walk", estreei-me como curador. A exposição é o culminar de uma caminhada fotográfica que realizámos em Novembro do ano passado em que fui o anfitrião. Trabalhei com mais de 40 fotógrafos, entre profissionais e amadores, porém antes da caminhada tivemos um workshop, onde falámos do conceito, da visão artística, para colocar todos no mesmo nível de visão e percepção e perguntas como - o que queres contar sobre Luanda? Como queres que Luanda seja vista através de ti? - resultaram em boas imagens, que estão expostas na União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Mas deixa ressaltar que apenas 15 fotógrafos participaram na exposição. Como curador, trabalhei no processo de selecção das fotos, a análise crítica e a selecção final para a exposição.
A exposição fica patente até quando?
Até 31 de Maio e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 16h30.
As fotografias estão à venda?
Sim, estão sim, à venda. Porque um dos objectivos do projecto, além de seleccionarmos e elevarmos a arte e o artista, é também vermos como o artista pode beneficiar financeiramente e pode viver daquilo que faz. Infelizmente, ou felizmente, não são muitas, são duas obras por artista. Mas é um pontapé inicial para muitos artistas poderem conseguir diversas formas de monetizar a sua arte. Então, temos um catálogo disponível. Com a selecção da curadoria, temos a biografia, a técnica, o tamanho e um pouco das especificações do que é a fotografia.
Todos os municípios de Luanda foram fotografados?
Infelizmente não conseguimos fotografar todos os municípios de Luanda. Porém, é o que queremos fazer em Novembro. Queremos mudar de zona, porque na primeira edição começámos no largo das Heroínas e terminámos no largo da UNAP, na Mutamba. Queremos explorar outras zonas de Luanda, não só as bonitas, não só as periféricas. O que acontece muito é que, quando se pretende falar de Luanda, queremos falar da parte periférica. E é isso que, às vezes, os criadores do conteúdo ou contadores de histórias, vendemos. Mas Luanda tem uma fusão, entre o periférico e a cidade, entre o mar e o bairro. E, nesta fusão toda, Luanda tem uma poesia, tem a sua forma de viver.
A exposição faz parte de uma plataforma internacional?
Certo! Tudo começou com o convite que recebi da Unpublished Africa, que é uma plataforma internacional. Eles visam apoiar contadores de histórias visuais africanos. Nesse caso, fotógrafos, realizadores de cinema e também alguma parte da área criativa como escrita e design. Mas estão mais para contadores visuais, que é fotógrafo e cinema. Então, como fui selecionado para fazer um curso de Creative Business Studio com eles, mais tarde, por ser o único angolano no curso, convidaram-me, para realizar a caminhada fotográfica em Luanda ou em Angola, uma iniciativa da plataforma que nunca tinha acontecido no País. Depois dessa caminhada, eu por conta própria, disse a eles que gostaria de continuar com o projecto porque as fotos poderiam ser mais divulgadas, além das redes sociais. Pois, temos conteúdo muito poderoso, imagens muito impactantes, que não poderiam ficar só no écran do telefone. Então, eu disse que queria eternizar isso e, de Novembro para cá, fui trabalhando na exposição.
Pretende estar sempre associado a essa plataforma internacional?
Por agora, pretendo estar sim, mas eles deram-me a autonomia de continuar a fazer o que eu quiser fazer com o projecto. Por isso é que consegui realizar a exposição. A princípio era para realizarmos a exposição no final do ano, até encontrarmos patrocínio, mas chegou um momento em que eu disse que precisávamos fazer por nós e depois ir atrás, porque o que acontece muito no mundo artístico é a cena do vitimismo. Nós estamos muito vitimistas em encontrar um salvador, um salvador que vai nos dar o dinheiro, que vai salvar a nossa arte. Mas, quando nós podemos ter iniciativas próprias, mesmo que sejam baratas ou não tão luxuosas como se tivéssemos uma marca a patrocinar, mas podemos conseguir caminhar com passos próprios e foi o que fiz com apoio de alguns fotógrafos. O próximo passo é tentar vendê-las a entidades, a colecionadores de arte, a empresas, hotéis e a todos os apreciadores de arte que queiram valorizar a arte de fotografia.
Como avalia o nosso mercado artístico?
O mundo artístico noutros países está muito desenvolvido. Os artis- "Não temos muitas iniciativas que apoiem a arte, além da música" LEONARDO THOMAS| FOTÓGRAFO E PRODUTOR AUDIOVISUAL Há sete anos que se propôs olhar o mundo através das lentes de uma máquina. Ao Expansão, o jovem que deu o primeiro passo como curador aponta vários aspectos do mercado nacional, desde a escassez de galerias como a falta de cultura do angolano em apreciar arte. Menciona ainda que investir em arte é também investir no país. "Temos poucos apreciadores de arte, e dos que temos, precisamos mudar a nossa perspectiva de apreciar arte" "Estamos numa realidade totalmente diferente que nem a agricultura tem peso na economia" Telma Van-Dúnem (texto) Manuel Tomás (fotos) 9 de Maio 2025 | EXPANSÃO 41 tas conseguem viver da sua arte e atrai mesmo muitos apreciadores. Mesmo que o artista não venda directamente a sua arte, o artista consegue fazer muitos contratos com as marcas. Coisa que ainda não acontece com frequência no nosso País. Contudo, acreditamos que as fotos expostas são poderosas e impactantes, pois retratam diversos pontos de vista de Luanda.
Leia o artigo integral na edição 825 do Expansão, de Sexta-feira, dia 09 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)